Vera Rosa, Ricardo Galhardo e Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo
• Ao final de 5º congresso, partido é enquadrado pelo governo e evita mudança: desiste de ataque à política econômica e ruptura com aliado
SALVADOR - O governo enquadrou o PT. Após três dias de embates, o 5.º Congresso do partido decidiu ontem não confrontar a presidente Dilma Rousseff e atenuou ainda mais as críticas à política econômica. Intitulada Carta de Salvador, a resolução política do encontro evitou ataques ao ajuste fiscal, não citou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e rejeitou a proposta que pregava o rompimento da aliança com o PMDB.
Diante da maior crise de seus 35 anos, no rastro dos escândalos de corrupção, o PT também aprovou moção de apoio ao ex-tesoureiro João Vaccari Neto, que está preso, acusado de desviar recursos da Petrobrás. Dividido, o PT não promoveu mudanças internas e adiou decisões importantes, como o referendo sobre o fim das doações empresariais, indicando que pode rever a proibição.
Na última hora, em um aceno à sua base, o partido encaixou na resolução um parágrafo dizendo que “é preciso conduzir a orientação geral da política econômica para a implementação de estratégias para a retomada do crescimento, (...) defesa do emprego, do salário e dos demais direitos dos trabalhadores, que permita a ampliação das políticas sociais”.
A emenda aprovada foi resultado de um acordo entre as duas correntes que mediram forças durante o encontro: a majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a Mensagem ao Partido, do ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro. O grupo de Tarso queria incluir no texto a expressão “alterar a política econômica”, mas foi derrotado.
CPMF. A defesa da CPMF acabou retirada da resolução. No lugar, entrou o apoio a “novas formas de financiamento à saúde” e ao imposto sobre fortunas e grandes heranças, lucros e dividendos. “As pessoas têm medo de imposto. Eu prefiro fazer o debate, mas respeito a decisão da maioria”, disse o presidente do PT, Rui Falcão. Na sexta-feira o ministro da Saúde, Arthur Chioro, defendeu a criação de um novo modelo de CPMF para a área, mas foi desautorizado por Levy.
Gritos contra o ajuste, com pedidos de recontagem de votos, marcaram as disputas entre as correntes no plenário. “A CUT tem razão. Ajuste é recessão!”, bradavam militantes. O congresso terminou sob vaias de alas minoritárias. “Levy era Judas, depois virou Jesus Cristo, foi santificado e subiu ao céu”, ironizou Markus Sokol, da corrente trotskista O Trabalho.
Fora Cunha. Em meio a gritos de “Fora Cunha”, o PT também rejeitou a proposta de tendências mais à esquerda, que pregavam a ruptura da aliança com o PMDB. Emenda da corrente O Trabalho chamava o PMDB do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), de “sabotador do governo”. O deputado Carlos Zarattini (SP) classificou Cunha de “oportunista de ocasião”.
O partido ainda decidiu manter o Processo de Eleição Direta (PED), alvo de denúncias de compra de votos para a escolha dos dirigentes petistas. Favorável à mudança da direção, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, reagiu. “O partido é de massas, mas não de massa de manobra. Isso aqui não é democracia de verdade. É manipulação de pessoas.”
“Há uma crise imensa e nossa expectativa era de que o 5.º Congresso aprovasse resoluções que permitissem superar essa crise. Mas o fato é que não mudou nada”, resumiu Valter Pomar, da Articulação de Esquerda.
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