Marina Dias, Catia Seabra , João Pedro Pitombo – Folha de S. Paulo
• Trecho que propunha 'alteração da política econômica' foi retirado e substituído por redação mais branda
• A pedido do Planalto, proposta de reedição da CPMF, extinta em 2007, também não consta do documento final
SALVADOR - Diante daquela que pode ser a maior crise dos seus 35 anos de história, o PT decidiu, após três dias de discussões, mexer pouco na sua estrutura partidária e atenuar críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff e à sua política econômica.
Documento final aprovado no 5º Congresso Nacional do PT, neste sábado (13) em Salvador, não cita nominalmente o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como propunham alas mais à esquerda da legenda, e diz que é necessário conduzir a política econômica "para a ampliação das políticas sociais."
"É preciso conduzir a orientação geral da política econômica para implementação de estratégias para a retomada do crescimento e defesa do emprego, do salário e dos demais direitos dos trabalhadores que permita a ampliação das políticas sociais", diz a emenda.
Ela foi aprovada após acordo entre as duas maiores tendências da sigla, CNB (Construindo um Novo Brasil), do ex-presidente Lula, e Mensagem ao Partido, do ex-governador Tarso Genro (RS).
A edição inicial da emenda propunha uma "alteração da política econômica", mas a expressão foi trocada de última hora após o acerto entre os dirigentes.
Uma proposta de reedição da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), extinta em 2007, havia sido incluída no texto inicial pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, mas a pedido do Planalto, o trecho foi retirado do documento final.
Em entrevista a jornalistas no fim do congresso, Falcão mostrou insatisfação sobre o assunto e disse que "as pessoas têm medo de falar de imposto". Segundo ele, porém, o partido se posicionou com críticas ao ajuste fiscal do governo Dilma evitando apenas "personificá-las".
"Acho que houve sim críticas a aspectos da política econômica, embora não dessa forma de 'fora, Levy', personificando críticas. Queremos uma orientação com mais emprego, mais salário, mais investimento, e isso não dá para ser feito com taxa de juros de 14% ao ano", afirmou o dirigente.
Ainda no campo econômico, como um pedido do PT de aceno à esquerda do governo, foi mantido no texto final propostas de impostos sobre grandes fortunas, herança e lucros e dividendos.
PMDB
O PT também rejeitou a revisão da política de alianças, que tem como principal aliado o PMDB, partido do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Apesar da decisão, dirigentes petistas ecoavam gritos de "fora, Cunha" enquanto era discutida a proposta sobre a ruptura com o PMDB e demais partidos aliados.
No Twitter, o presidente da Câmara ironizou os ataques do PT. "Quero agradecer as manifestações de hostilidade no congresso do PT. Isso é sinal que estou no caminho certo. Ficaria preocupado se eu fosse aplaudido lá".
Os petistas decidiram ainda adiar a discussão sobre financiamento privado de campanha e manter as eleições internas como forma de eleger a direção do partido.
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