- Folha de S. Paulo
• Acusado de relaxamento sob Dilma 1, Banco Central agora pode se sufocar na sua nova saia justa
O Banco Central faz mais juras de que a inflação estará na meta de 4,5%, em 2016. Até os rapazes do mercado debatem se é o caso de fazê-lo a ferro e fogo. Está agora claro para todo o mundo que o BC se tornou meio que prisioneiro de sua mudança de hábito.
A promessa de observância estrita da regra começou no final de 2014, depois de idas e vindas no governo Dilma 1, quando o BC prometia endurecer sem perder a ternura. Isto é, levar a inflação à meta em prazos mais dilatados, sem forçar a mão nos juros. Promessas não pagam dívidas e, agora, no desmanche de Dilma 1, a ideia seria fazer o mal de uma vez só.
Mas há muita gordura de inflação para queimar até 2016. A dieta dura pode deixar sequelas contraproducentes, da economia à política. A inflação deve fechar o ano perto de 9%. Embora as expectativas "de mercado" para 2016 estejam na casa mediana de 5,5%, queimar esse ponto extra até a meta pode dar em besteira. Deixar de fazê-lo também: significaria "relaxamento".
Sequelas: quanto mais alta a taxa de juros, maior o custo da dívida pública, a qual se pretende reduzir, sendo esse o motivo primeiro do arrocho do governo. Desemprego e recessão podem ser ainda maiores, e assim menor a receita de impostos.
Há quem argumente que a recessão já encomendada faria parte do serviço do BC. O consumo das famílias cai pela primeira vez em uma dúzia de anos; o desemprego aumenta rápido, desde fevereiro.
Nessa linha de argumento, o BC já teria dado provas de sua boa vontade. Não haveria de resto muito o que fazer para levar o IPCA a 4,5% no ano que vem, pois a alta de preços deste ano vai contaminar 2016, por inércia: o reajuste do salário mínimo será de uns 9%; várias categorias tentariam recuperar a inflação deste ano; há contratos indexados.
Mas esses podem ser motivos para endurecimento, também.
Para fazer o papel de advogado do diabo, ou do próprio capeta, note-se que o massacre dos empregos ainda está concentrado na construção civil, em que houve queda anual de 7,6% até abril do pessoal ocupado, segundo a Pnad Contínua do IBGE. Nos outros grandes setores, a ocupação ainda cresce. No caso do emprego formal, a desgraça já é mais disseminada, embora concentrada também na construção civil (queda de 9%, na comparação anual) e na indústria de transformação (3,8%).
No inflado setor de serviços, o buraco é mais para cima. Nos anos Dilma, a inflação média de serviços foi de 8,5%, ante 6,3% da média geral. O setor de serviços para empresas emprega 6,7% mais gente que em abril de 2014; os salários ainda empatam com a inflação, caso cada vez mais raro. Desinflar tudo isso será um sinal e uma necessidade do ajuste econômico.
O episódio mais recente de desinflação rápida ocorreu de abril de 2005 a abril de 2006. O IPCA foi de 8,1% a 4,6%; a Selic chegaria a 19,75% em maio de 2005. Mas a situação era outra. O dólar caía, não havia superaquecimento, desemprego era maior, os salários, mais contidos, não houvera choque de preços regulados nem tamanho descrédito do governo em política econômica.
Chuta-se que a Selic, ora em 13,75%, teria de ir a uns 17% para se repetir a façanha. Não dá pé. A dúvida é onde parar. 14,50%? Alguém dá mais?
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