Por Fernando Taquari - Valor Econômico
SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que apenas depois que a Operação Lava-Jato chegar ao fim sentará com o seu sucessor na Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para discutir a crise política e econômica do Brasil. Em palestra na capital paulista, o tucano explicou que sempre esteve aberto ao diálogo com o petista, mas que agora tem receio diante das investigações. Lula não é investigado, mas na semana passada a Polícia Federal (PF) defendeu que o ex-presidente seja ouvido em investigação.
"Deixa passar a Lava-Jato", disse a FHC ao ser questionado por um integrante da plateia. Em sua fala, o ex-presidente mostrou decepção com o desempenho de Lula na Presidência ao afirmar que seu sucessor foi capturado pela "política tradicional" e não aproveitou suas qualidades, como a autenticidade, para romper com setores atrasados da política. Além disso, lamentou a decisão do petista de "transformar o PSDB em inimigo principal".
Ao tratar dos desdobramentos da operação, o tucano recomendou que o seu partido tenha cautela ao negociar alianças com outras legendas no momento em que políticos aparecem citados como beneficiários de esquemas de corrupção.
"Já disse ao PSDB. Vai devagar porque eu não sei quem vai estar de pé depois da Lava-Jato. Temo que se faça aliança precipitada com gente que vai ser expurgada", ressaltou. A declaração é uma resposta aos correligionários em meio às conversas de bastidores entre tucanos e pemedebistas em torno de um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Antes da palestra, que marcou o lançamento do seu livro "A Miséria da Política", o tucano rebateu as declarações da presidente, que em visita ao interior de São Paulo, acusou a oposição de usar a crise econômica para dar um golpe. "Quem está sofrendo a crise não quer dar golpe, quer se livrar da crise. Na medida em que o governo faz parte da crise, as pessoas começam a se perguntar se vai durar ou não [o governo]. Não é golpe", enfatizou.
FHC observou que há elementos políticos para o impeachment, mas que o afastamento está condicionado ao julgamento das contas do governo pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pelo desenrolar das representações apresentadas pelo PSDB ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por eventuais irregularidades cometidas na campanha da petista em 2014. "Em tese você precisa ter muito cuidado com o impeachment por causa da democracia. Se o TCU apontar, aí não tem jeito. Não é golpe. Se houver tal e tal coisa a lei manda. Não é minha torcida. São fatos. Há canais institucionais que estão determinando esses fatos", disse.
O ex-presidente também defendeu que o PSDB aproveite o momento de fragilidade do governo petista para construir uma narrativa a favor dos insatisfeitos. "Falta-nos linguagem adequada para nos engajarmos com o que está acontecendo no país". Segundo ele, é preciso unir o discurso social com o econômico. "A oposição tem quer ter um discurso crítico, mas que abra para as pessoas que elas podem ter um horizonte melhor", disse FHC, rechaçando a pecha de neoliberal do PSDB.
"Ter um Orçamento equilibrado não é direita ou esquerda. Isso está em outro plano, como social, de justiça. Eles destruíram o Orçamento e levaram o Brasil a esse impasse", afirmou.
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