quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Para FH, eventual impeachment não seria golpe

• ‘Não vamos poder ficar do jeito que estamos por muito tempo’, diz tucano

Silvia Amorim - O Globo

-SÃO PAULO- Horas após a presidente Dilma Rousseff acusar opositores de usarem a crise para tentar dar um golpe, o expresidente Fernando Henrique Cardoso reagiu. Disse que um eventual impeachment não pode ser confundido com golpe. Frisou que duas condições políticas precisam ser atingidas para se chegar ao impeachment. Para ele, uma delas “parece que está existindo”.

—Tem que ter cuidado. Não pode tirar porque o governo está errado. Isso não é democracia. O impeachment precisa de duas condições. Uma é a perda de capacidade de governar. Essa parece que está existindo. Agora, se o TCU (Tribunal de Contas da União) notar alguma coisa mais significativa ou se nos processos que existem no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) se ver claramente que a campanha foi financiada de modo indireto, aí não tem jeito. E não é golpe. Golpe seria se eu dissesse agora “vamos tirá-la” — disse o tucano, em debate promovido em São Paulo para o lançamento de seu livro “A Miséria da Política”.

No atual cenário de instabilidade, FH disse temer que o PSDB faça alianças com “quem vai ser expurgado” da política. Em meio a articulações de bastidores entre o PSDB e o PMDB para discutir um eventual processo de transição política, FH pediu cautela aos líderes de seu partido e alertou para o risco de parcerias com pessoas que possam vir a ser arrastadas para a crise pelas investigações da Operação Lava-Jato.

— Já disse ao PSDB: vá devagar. Porque não sei quem vai estar de pé (ao final da Lava-Jato). Temo que se faça aliança precipitada com gente que vai ser expurgada — disse.

Figuram entre os peemedebistas citados na operação o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, ambos do PMDB.

FH fez um paralelo da atual crise com a vivida após o impeachment do ex-presidente Fernado Collor. Ele disse acreditar que, se isso vier a acontecer novamente, a situação será mais difícil porque o período de mandato pela frente será muito maior do que o que restava naquela época.

O tucano também considerou que o país não suportará a situação atual:

— Não vamos poder ficar do jeito que estamos por muito mais tempo.

FH descartou publicamente um diálogo neste momento com o ex-presidente Lula para tentar encontrar um caminho para o fim da crise política.

— Deixa passar a Lava-Jato. Depois eu falo.

O ex-presidente admitiu que a aceitação por ele de um convite feito pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), para assistir a uma ópera, foi proposital.

— Procuro ter relações com gente do PT. Esses dias anunciaram nos jornais que fui com o prefeito ao teatro. Fui de propósito. Neste momento de acirramento, você tem que dar um sinal de que não está nessa onda (Com Stella Borges, estagiária).

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