• Pode ser a chance de o país voltar à comunidade internacional e abandonar um estilo de política que o levou da prosperidade à pobreza
Os argentinos irão às urnas hoje numa disputa inédita de segundo turno. Seja qual for o resultado, é bem provável que a Argentina inaugure uma nova fase histórica. Mudança mais que bem-vinda, considerando-se que 12 anos de kirchnerismo deixaram o país à beira do abismo. No plano político, a sociedade civil se viu asfixiada por medidas autoritárias, como o cerceamento da liberdade de imprensa e a pressão sobre os demais poderes. Em nome de um populismo de esquerda, o casal Kirchner acabou por isolar o país.
O resultado foi o desastre econômico. A atividade encontra-se estagnada desde 2012, e a inflação gira perto de 30%. O peso se desvalorizou e o déficit fiscal ronda os 8% do PIB, bem acima do teto prudencial de 3%. Tal quadro é o resultado de medidas como o controle de remessas de dólares, de preços e nacionalização de empresas, que tornaram imprevisível o ambiente de negócios, afastando investidores.
Não à toa, pesquisas de opinião apontam a vitória do candidato da oposição, Mauricio Macri, do Mudemos, apesar de ainda haver uma margem de indecisos de 8%. Macri tem no currículo o mérito de ter restaurado as caóticas finanças de Buenos Aires, o que o credencia a recolocar o país no caminho do crescimento, por meio de um desenvolvimento econômico sustentável.
O próprio candidato situacionista, Daniel Scioli, durante a campanha eleitoral buscou se descolar o máximo possível da presidente Cristina Kirchner, prometendo mudanças. Embora analistas políticos indiquem que o vencedor do pleito terá que negociar algum tipo de aliança com os peronistas para conseguir governar, o distanciamento de Scioli reforça os sinais de que o kirchnerismo sairá derrotado.
Sergio Massa, terceiro colocado no primeiro turno, ex-kirchnerista, afirmou esta semana que a tendência é que a maioria dos 5,2 milhões de eleitores que votaram nele apoiem agora o candidato do Mudemos. Preocupado com o avanço de Macri na reta final, Scioli adotou a tática do medo, afirmando que programas sociais serão eliminados pelo rival e o dólar, desvalorizado, ao mesmo tempo em que prometeu implementar mudanças gradualmente. Para analistas, o tiro pode sair pela culatra, ao enfraquecer seu compromisso com as mudanças ansiadas pelo eleitor.
A expectativa de reforma anima empresas interessadas em investir ou ampliar seus negócios num país estrategicamente bem localizado e com uma mão de obra qualificada, caso da brasileira BRF. E, de fato, esta pode ser a chance de a Argentina voltar a se integrar à comunidade internacional e abandonar de uma vez por todas um estilo de política que levou o país da prosperidade à pobreza.
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