• Planalto tenta convencer setor emrpesarial de que Dilma Rousseff ainda tem condições de reagir na economia, enquanto oposição aposta no ‘Fator Temer’ para reforçar percepção de que somente a troca de comando na Presidência pode recuperar as finanças do País
Alberto Bombig - O Estado de S. Paulo
Defensores do impeachment da presidente Dilma Rousseff, ministros de Estado e líderes da base aliada ao governo intensificarão a partir de hoje a busca por apoio no empresariado brasileiro, suportes considerados fundamentais pelos dois lados da disputa no resultado final do processo, deflagrado quarta-feira passada e que pode levar a interrupção do atual mandato da petista.
Os primeiros contatos foram feitos na sexta-feira e no fim de semana, por emissários do Palácio do Planalto, do PSDB (partido à frente da oposição), e até do vice-presidente Michel Temer (PMDB), que possui uma rede privilegiada de interlocutores na economia.
Por enquanto, o recado transmitido ao mundo político foi claro: o setor produtivo tem pressa em encontrar uma solução para a crise política. A grande preocupação dos empresários é adentrar 2016 longe de uma definição, o que geraria impactos negativos na economia.
O temor de empresários ouvidos pelo Estado e relatado aos políticos é que o processo de impeachment se arraste até a metade do primeiro semestre do ano que vem e comprometa o planejamento e, consequentemente, os resultados do ano como um todo.
Para o Planalto, se o empresariado fechar questão a favor do impeachment e transmitir esse recado para o Congresso e para as ruas, a hoje favorável situação de Dilma no Parlamento – 212 deputados votam com o governo 90% das vezes, conforme mostrou ontem o Estadão Dados – ficará muito difícil de ser mantida.
O mesmo raciocínio vale para a oposição. De acordo com um senador ouvido peloEstado, há entre os empresários a “sensação de que o Brasil está sem governo”.
Segundo ele, essa percepção ainda é insuficiente para que o setor produtivo se decida pela substituição da presidente, porém, é mais forte do que esteve em outros momentos, quando a tese do impeachment foi colocada com mais força pelos agentes políticos.
‘Confiança’. Dilma escalou seus auxiliares diretos e colaboradores na área econômica para conversar com o chamado “PIB brasileiro”. A orientação do Planalto é tentar transmitir “confiança” ao empresariado, dizendo que a presidente está “tranquila” e tem “total condição de recuperar a economia do País, desde que esteja livre da crise política provocada por seus opositores”, conforme relatou aoEstado um dos ministros convocados pela petista para a missão.
A avaliação governista é de que a gestão Dilma Rousseff perdeu terreno no empresariado, principalmente após a perda do grau de investimento do País, em setembro, mas que ainda é possível retomar apoios com a afirmação de que a gestão dela avançou a caminho de recuperar as contas públicas, com a rejeição à pauta-bomba do Congresso, por exemplo.
‘Fator Temer’. A oposição à Dilma confia na capacidade de articulação do vice-presidente com os empresários – o que os tucanos chamam reservadamente de “Fator Temer’. O peemedebista ainda tem mostrado reserva em procurar ele próprio o PIB nacional para se apresentar como alternativa de poder. Porém, o programa do PMDB para a economia, bancado e lançado por Temer mês passado em Brasília, foi entendido como um recado claro de que ele está atento à necessidade de priorizar e incrementar a atividade econômica. No texto Uma Ponte para o Futuro o partido alerta para o risco de o País atravessar um longo período de estagnação e prega a necessidade de mudanças estruturais.
Temer também possui bom trânsito com duas das mais importantes entidades empresariais do País, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Dilma conta com a ajuda da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para tentar equilibrar esse jogo. O presidente da CNI, Armando Monteiro, é ministro do Desenvolvimento e foi um dos escalados para negociar apoios contra o impeachment.
Na quarta-feira, poucas horas depois de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ter anunciado a abertura do processo de impeachment, o empresário Paulo Skaf, presidente da Fiesp, fazia um discurso no qual cobrava mudanças por parte do governo e dizia que a crise econômica só será resolvida se a turbulência política terminar. Skaf é filiado ao PMDB.
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