Por Andrea Jubé e Daniel Rittner – Valor Econômico
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto acompanha de perto os movimentos do PMDB depois que o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, pediu demissão. O governo busca garantir o apoio unânime, ou pelo menos majoritário do partido, que pode oferecer o maior número de votos para barrar o impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso.
O gesto de Padilha e os movimentos do vice-presidente Michel Temer acenderam a luz amarela no Planalto. Temer evitou se posicionar sobre o impeachment. Convidado, ele se esquivou da foto ao lado de Dilma na noite do pronunciamento quanto à abertura do processo. Hoje o vice aparecerá ao lado do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, em evento da Fecomércio com empresários. Skaf é notório adversário de Dilma. À noite, Temer vai à entrega de um prêmio dado por entidade empresarial, presidida pelo tucano João Doria Jr. O ato ocorre no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo, que tem à frente uma das principais lideranças da oposição, o governador Geraldo Alckmin (PSDB). A assessoria de Temer informa que os dois compromissos já estavam agendados há mais de um mês.
Na sexta-feira, a demissão de Padilha motivou uma reunião de Dilma com ministros do "comitê de crise" para discutir a linha de ação para evitar a debandada do PMDB. O Planalto foi informado de que outros ministros não vão seguir os passos de Padilha, mas sua saída teve duas leituras. Uma é de que, por ser o braço-direito de Temer, o desembarque pode ser interpretado como um distanciamento do vice já no início do processo. Outra avaliação é que a cúpula do partido não está com Dilma. Um sinal adverso já que o governo tenta mostrar que o principal aliado estaria "fechado" com a presidente, quando não está. Um líder do PMDB comparou a sigla a um jogo de futebol de botões, onde você não controla todos os jogadores.
Padilha estava insatisfeito com o governo havia meses. No primeiro semestre, quando atuou como coordenador político, ele se queixava da resistência da Casa Civil em confirmar nomeações acertadas por ele e Temer com os aliados. Na Secretaria de Aviação Civil, foi vítima dos cortes orçamentários e não conseguiu tirar do papel duas missões às quais se havia proposto: reestruturar a Infraero e implementar o programa de aviação regional. Inconformava-se com o fato de que os aeroportos privatizados geram R$ 4,5 bilhões aos cofres do Tesouro, mas o setor tem padecido com a falta de verbas.
A retirada da indicação de um diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) foi a gota d'água para o pedido de demissão. Ele era o fiador da ida do economista Juliano Noman, atual secretário de navegação aérea, para uma das vagas disponíveis na agência reguladora. Noman, servidor da Anac e respeitado no mercado, era visto como um dos potenciais sucessores de Marcelo Guaranys - cujo mandato vence em março de 2016 - no comando do órgão. Dilma o indicou em junho, mas retirou seu nome na quarta-feira, mesmo dia em que o relatório do senador Lasier Martins (PMDB-RS) sugerindo aprovação seria lido na Comissão de Infraestrutura do Senado. Padilha não foi comunicado previamente e se sentiu driblado, pois vinha conversando com parlamentares a favor de Noman.
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