- O Estado de S. Paulo
O campo de batalha do impeachment é o PMDB. De um lado, o vice Michel Temer tenta unir o partido em torno de seu nome. De outro, Dilma Rousseff e o PT fazem o que podem para rachar os peemedebistas. Hoje, Dilma e PT levam vantagem sobre Temer. Daí a correria para votarem logo o impeachment. Recentemente, dos 66 deputados do PMDB, 42 votaram mais de 90% das vezes com Dilma em projetos cruciais do ajuste fiscal. Amanhã, ninguém sabe.
E por que o PMDB, com apenas 13% dos votos na Câmara, é tão importante para o destino do impeachment? Estatisticamente, o PMDB é a melhor proxy do comportamento dos 513 deputados, quase uma amostra do universo da Câmara. Para onde a maioria do partido vai, a maior parte dos outros 447 deputados costuma ir. Não que os peemedebistas puxem o resto, não se trata de uma relação de causa e efeito. Observar o PMDB é olhar uma biruta de aeroporto para descobrir em qual direção sopra o vento.
Hoje, há uma brisa a favor de Dilma. Segundo levantamento do Estadão Dados, feito por Daniel Bramatti e Guilherme Duarte, a presidente teve os votos firmes de 212 deputados nas últimas votações mais importantes - além de outros 94 que estão mais para o lado do governo do que para a oposição. Para segurar-se na cadeira, Dilma precisa de 171 votos. Se sua margem hoje não permite a ela deitar e rolar, é larga o suficiente para mantê-la com dois pés no poder. Mas, é claro, o vento sempre pode mudar.
Quando o pedido de impeachment de Fernando Collor foi aceito na Câmara, em 1992, já havia uma maioria declarada a favor do afastamento do presidente. Por mais que procurassem, os jornais não conseguiam achar nem cem votos colloridos entre os então 503 deputados. Já o contingente pró-impeachment crescia a cada edição, pois os levantamentos eram atualizados diariamente.
No dia decisivo da votação, o governo propagandeava ter 156 dos 168 votos necessários para arquivar o impeachment de Collor. Teve 38. O Estado foi o que chegou mais perto, prevendo 45 votos a favor do presidente. Todos erraram porque muitos deputados ficaram sentindo o vento até o último minuto. Quando viram que não tinha mais jeito, bandearam-se em massa para a oposição como alcateia de hienas que abandona a carcaça ao fim da refeição.
Ainda não se percebe a mesma sensação de saciedade no PMDB hoje. Dilma conseguiu declarações de apoio do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e do prefeito carioca, Eduardo Paes. Também peemedebistas, os governadores de Sergipe, Jackson Barreto, e de Alagoas, Renan Filho, assinaram nota junto com outros seis colegas nordestinos contra o impeachment. Além dos atos, também entram na conta as omissões e as inações.
Temer arriscou-se ao sacar seu único ministro, Eliseu Padilha. Talvez achasse que precipitaria uma debandada de peemedebistas do governo. Só conseguiu entrar em impedimento e dar bandeira que pretende mudar de palácio. Outros ministros do PMDB não só não pediram demissão como fizeram questão de tuitar logo depois do anúncio da saída de Padilha para mostrar que seguiam trabalhando. Antes seis ministérios na mão do que 31 voando.
Esse era o sentimento peemedebista na sexta-feira. Mas se política é nuvem - quando se olha de novo, já mudou -, os nimbos-cúmulos do PMDB mudam ainda mais rápido. O que poderia fazer a carregada nuvem peemedebista precipitar uma tempestade sobre Dilma? Muitos fatores, alguns sobre os quais o governo tem controle, outros não. De cortes orçamentários nas pastas que administram a novas prisões e delações no âmbito da Lava Jato.
São tantas variáveis e com tantas combinações diferentes entre si, que prever o resultado é mais difícil do que era para o Vasco escapar do rebaixamento no Brasileirão. Quanto mais o tempo passa, mais o time de Dilma se arrisca à segunda divisão.
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