• Ex-presidente vai articular parlamentares e movimentos sociais
Renato Onofre Lauro Neto - O Globo
-SÃO PAULO- O PT aposta na influência política e no poder de articulação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar estancar o processo de abertura de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Lula buscará apoio no Congresso e entre os líderes de movimentos sociais, sindicatos e entidades de classe que deverão ir às ruas, de forma conjunta, numa “frente contra o golpe”. Lula participará hoje, em São Paulo, de uma reunião para definir os próximos passos da ação.
Para dirigentes petistas, Lula terá papel fundamental na mobilização dos movimentos sociais, sindicatos e entidades de classe. O objetivo é contrapor nas ruas a ação de grupos pró-impeachment, que já marcaram manifestações para esta semana. Em reunião no último sábado, o presidente do PT, Rui Falcão, disse a aliados que a luta pela manutenção do mandato da presidente Dilma terá que ser ganha, primeiro, nas ruas.
Além das ruas, Lula deverá atuar também junto a parlamentares da base aliada do governo para evitar uma debandada à oposição. No Congresso Nacional, o governo precisa assegurar 172 votos caso o impeachment seja aprovado no comissão especial que analisará a proposta. Atualmente, o PT sabe que não terá assegurada a adesão dos 292 deputados da base em favor de Dilma.
— O Lula tanto é fundamental na rua quanto nos partidos, com as lideranças, com as entidades da sociedade civil. Amanhã (hoje) temos a primeira reunião para discutir essa situação — disse o presidente do PT em São Paulo, Emídio de Souza.
Segundo Emídio, Dilma também irá se encontrar com movimentos sociais:
— A Dilma vai atuar também junto aos movimentos sociais. Ela recebe esta semana a Frente Brasil Popular e está se articulando nesse sentido.
Para dirigentes petistas, a preocupação imediata está no Congresso. Parlamentares aguardam as indicações dos nomes que irão compor a Comissão Especial que analisará o pedido de impeachment para traçar uma estratégia de atuação no parlamento. A negociação direta ficará a cargo do Planalto, mas o PT também vai atuar junto a aliados. Durante o fim de semana, deputados petistas ligaram para aliados para assegurar apoio.
— Temos uma reunião de bancada dos deputados federais amanhã (hoje), por volta de 12h, em que todas essas questões vão ser debatidas. Vai ser uma agenda carregada — afirmou o deputado Wadih Damous (PT-RJ).
A movimentação do PMDB é acompanhada de perto. O GLOBO revelou, ontem, que um grupo ligado ao vice-presidente, Michel Temer, articula a derrubada de Dilma. Entre eles, estariam os ex-ministros Geddel Vieira de Lima, Moreira Franco e Eliseu Padilha, que deixou o Ministério na semana passada e começa a trabalhar hoje na liderança do partido no Congresso.
— A eleição da Dilma e do Temer foi em cima de um programa sobre o qual já havia acordo. No nosso entender, não vai haver governo de transição. A Dilma vai até o fim. O PMDB tem direito de formular o que bem entender e até de disputar essas coisas no interior do governo. Até setores do PT têm criticado a política econômica. O setor do Geddel no PMDB está pregando o afastamento do governo há muito tempo — minimiza Emídio.
Damous foi mais crítico e cobrou uma posição ativa de Temer:
— Parece não ser a ala majoritária que quer pegar carona no golpe do impeachment. Isso, em tese, levaria o Michel Temer à Presidência. É bom observar que o vice andou assinando decreto das chamadas “pedaladas fiscais” no exercício da Presidência. Já passou da hora de ele vir a público, cumprir com a sua obrigação e demonstrar o apoio à presidente. Afinal, elegeram-se juntos. Deixar claro que ele não quer se valer de um instrumento que está sendo claramente manipulado para chegar por esse atalho à Presidência.
Sobre atuação de Moreira e Geddel a favor do impeachment, Damous é irônico:
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