• À PF, mulher de João Santana diz que empreiteira usou empresa offshore para repassar o dinheiro
Renato Onofre e Cleide Carvalho - O Globo
SÃO PAULO- A publicitária Mônica Moura, mulher e sócia do marqueteiro João Santana, disse à Polícia Federal que a construtora Odebrecht usou caixa dois para pagar parte da última campanha presidencial do líder venezuelano Hugo Chávez, morto em 2013. Os pagamentos foram feitos em 2011 através da empresa offshore Klienfeld, a mesma usada pela empreiteira para pagar propina a ex-diretores da Petrobras, de acordo com investigações da Operação LavaJato. Mônica disse que a campanha chavista custou US$ 35 milhões, pagos por diversos doadores de forma “não contabilizada” nem no Brasil nem na Venezuela.
A Lava- Jato agora quer saber se os recursos recebidos pelo casal no exterior tiveram como origem o esquema de corrupção na Petrobras. Para integrantes da força- tarefa ouvidos pelo GLOBO, a confissão de Mônica Moura não elimina a possibilidade de os recursos terem saído do Brasil. O casal de publicitários, que comandou as campanhas da presidente Dilma Rousseff (2010 e 2014) e do ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva ( 2006), é suspeito de receber US$ 7,5 milhões em propina desviada da estatal. Em depoimento à PF anteontem, Mônica negou que o dinheiro tenha origem em contratos no Brasil.
A publicitária informou aos investigadores que todos os valores depositados na conta da offshore Shellbill, usada pelo casal, vieram de trabalhos no exterior. Além da Venezuela, João Santana e Mônica dizem ter recebido na conta da offshore depósitos relativos à campanha do presidente da Angola, José Eduardo Santos, e à campanha do presidente da República Dominicana, Danilo Medina. O casal estava neste país caribenho cuidando da campanha de reeleição de Medina quando foi deflagrada a 23 ª fase da Lava- Jato, batizada de Operação Acarajé. Mônica disse que recebeu dinheiro para campanha na República Dominicana através da offshore, mas que “não se recorda” nem dos valores e nem da conta.
Segundo Mônica, a maior parte da campanha venezuelana foi paga através de caixa dois. De acordo com ela, em razões da dificuldade de receber os pagamentos, o dinheiro saiu de “vários doadores, de forma não contabilizada”.
Os pagamentos ao casal saíram da Odebrecht, segundo a publicitária, através da offshore Klienfeld, que, de acordo com a PF, também foi usada pela empreiteira para pagar propina aos ex- diretores da Petrobras Renato Duque e Paulo Roberto Costa. De acordo com Mônica Moura, ela precisava receber cerca de US$ 4 milhões devidos pela campanha de Chávez realizada em 2011. Mônica teria sido orientada por uma pessoa não identificada, ligada à campanha de Chávez, a procurar o brasileiro Fernando Migliaccio, que deveria resolver os pagamentos da Odebrecht.
Segundo as investigações da Lava- Jato, Migliaccio é o operador de propinas da Odebrecht no exterior. Ele teria pago US$ 3 milhões aos publicitários entre 13 de abril de 2012 e 8 de março de 2013. Para a Procuradoria- Geral da República, “pesam indicativos de que consiste em propina oriunda da Petrobras transferida aos publicitários em benefício do PT”.
Campanha de Angola
A publicitária afirmou ainda aos policiais federais que os pagamentos feitos por Zwi Skornicki — apontado pela Lava- Jato como um dos operadores de propina da Petrobras — foram relativos a serviços prestados na campanha do presidente da Angola, José Eduardo dos Santos. De acordo com Mônica Moura, o casal recebeu cerca de US$ 50 milhões para fazer a campanha de Santos, que comanda o país africano desde 1979. Desse montante, US$ 30 milhões teriam sido pagos por meio da empresa Pólis Brasil, que pertence ao casal, e outros US$ 20 milhões através de um “contrato de gaveta”.
Mônica Moura prometeu fornecer cópia do documento aos investigadores. Ela disse ainda que, desde 2014, estava tentando regularizar a situação financeira dela no exterior. Questionado sobre por que a situação não tinha sido sanada, a publicitária disse que aguardava a promulgação da lei da repatriação para declarar os depósitos na Suíça.
A mulher de João Santana admitiu ainda que é a autora do bilhete encontrado pela Polícia Federal na casa do Zwi Skornicki com os dados bancários de offshores controladas pelo casal. A defesa de Mônica Moura disse que ela e o publicitário João Santana vão autorizar as autoridades brasileiras a terem acesso aos extratos das offshores do casal no exterior. Em nota, a Odebrecht informou que “desconhece as tratativas mencionadas por Mônica Moura em seu depoimento”.
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