- O Globo
Para Marina, Dilma falta com a verdade ao falar em golpe, como faltou nas eleições. Não é golpe o que está em curso, e a presidente Dilma, quando diz isso, está “faltando com a verdade como faltou com a verdade na campanha eleitoral. Se fosse golpe, teria sido com o Collor”. É o que pensa a ex-senadora Marina Silva. Ela tem defendido que a melhor saída é pela decisão do TSE, que julga ações contra a campanha, e já há indícios “de dinheiro de corrupção na campanha”.
Marina acredita que o impeachment que está sendo votado na Câmara atende à formalidade, mas não à finalidade. “Ao final, nós vamos nos defrontar com a outra parte que é o PMDB”, que na opinião dela é tão culpado quanto o PT pela situação atual e também atingido pela corrupção. Ela defende a saída pelo TSE, com novas eleições.
Ela está à frente nas pesquisas, mas diz que não se coloca como candidata. Acha que “o pior dos mundos” seria pensar agora em candidaturas porque isso não contribui com a solução. A ideia é “devolver a 200 milhões de brasileiros a possibilidade de repactuação”.
Eu a entrevistei na Globonews, e uma grande dificuldade que ela terá na campanha será o pouco espaço, só 12 segundos no horário eleitoral. A Rede não tem direito a fundo partidário nem pode participar de debates.
Perguntei para ela o que fazer diante do fato concreto de que o Congresso já está com um processo de impeachment em andamento, enquanto o TSE, que ela prefere, só deve julgar as ações contra a chapa Dilma-Temer em setembro. O que fazer?
— Não se pressiona a Justiça, mas ela também tem sentido de urgência e já tem elementos com suporte nas investigações e poderá fazer um veredito com base em provas. A Constituição diz que se houver dinheiro de corrupção a chapa é cassada. Se assim considerarem os sete juízes do TSE, pode-se devolver a 200 milhões de brasileiros a possibilidade de nova eleição, no qual todos os partidos poderão se apresentar.
Na visão dela, o problema do impeachment é separar os dois:
— PT e PMDB só se separaram agora, na crise. Mas eles geraram a crise econômica, política e ética. Tomaram as decisões que estão sendo investigadas. Nomearam a diretoria da Petrobras e estão implicados na Lava-Jato. Não é possível achar que uma parte é o problema e a outra é a solução. O impeachment está indo de forma enviesada. Cunha tirou tudo o que é da Lava-Jato da denúncia. O caminho do TSE tem ainda a vantagem de permitir, numa possível nova eleição, que a sociedade e as lideranças políticas possam se reaproximar. A sociedade está apartada dos políticos. Marina disse que a Lava-Jato é um processo positivo: — O Brasil precisa estabelecer a crença de que tudo que está acontecendo é para melhorar o país. A Lava-Jato, com o trabalho da Polícia Federal, Ministério Público, e da Justiça através do juiz Sérgio Moro, está dando uma contribuição à democracia que talvez só se entenda daqui a 10 anos.
Perguntei se ela não fica às vezes muito ausente no debate do país. A ex-senadora disse que concede entrevistas sempre que é solicitada e que está presente nos seus espaços nas redes sociais, mas fica difícil participar quando não há esses meios. Perguntei por que ele não foi à Mariana e como ela respondia às críticas de que esteve ausente:
— Naquele momento, se eu fosse, seria para fazer foto. Já vi muitas tragédias e vi pessoas que chegavam para faturar. Vi muita gente chorando em cima do caixão de Chico Mendes para faturar. Eu não poderia fazer isso. Mas escrevi artigos e falei nas redes sociais e estou trabalhando junto com deputados da Rede para transformar crimes como aqueles em hediondo e entrei em contato com Edgar Morin para que o crime tenha também um julgamento internacional. Eu apanho quando faço, apanho quando não faço. Prefiro seguir minhas convicções e nunca instrumentalizar uma tragédia.
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