Às vésperas da convenção, a base do PMDB nos estados decidiu apresentar uma “moção de independência” em relação à gestão Dilma. Os ministros continuariam nos cargos, mas deputados e senadores ficariam livres para votar contra o governo.
PMDB deve votar moção por ‘ independência’ do governo
• Ministros não sairiam, mas parlamentares ficariam livres para votar
Simone Iglesias - O Globo
- BRASÍLIA- Enquanto o vice-presidente Michel Temer prega pacificação em meio a uma das mais fortes crises políticas da República, o seu partido, o PMDB, dá novos passos para se afastar da presidente Dilma Rousseff, mas sem perder os cargos que hoje tem. A base peemedebista nos estados se mobiliza para aprovar no próximo sábado, durante convenção nacional que reconduzirá Temer ao comando partidário, uma moção pela independência. Só que para evitar serem associados aos movimentos contra o governo, o vice e seus principais aliados — como os ex-deputados Eliseu Padilha ( RS) e Moreira Franco ( RJ) — pretendem ficar longe dos holofotes.
— O governo está desintegrando. Não é hora de se expor — disse uma pessoa próxima a Temer.
Na prática, o rompimento, se aprovado, se dará da seguinte forma: Dilma manterá os peemedebistas que quiser na Esplanada dos Ministérios, mas como “cota pessoal”, e senadores e deputados ficam livres de seguir o governo nas votações no Congresso. Alguns peemedebistas avaliam que essa posição permitiria inclusive que se exigisse mais cargos e nomeações ao Palácio do Planalto.
Com o agravamento da crise política, este formato de ruptura, segundo integrantes da cúpula partidária, já teria a adesão de cerca de 60% dos delegados com direito a voto, de mais da metade dos deputados federais e de um terço dos senadores. A base da moção que será apresentada no sábado é um documento aprovado pelos três estados da Região Sul ( Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), intitulado “Carta de Porto Alegre”. O texto pede o afastamento “dessa desastrosa condução do país” e que o PMDB atue de forma independente do governo federal nas suas ações e posições no Congresso Nacional. O texto reforça crítica feita por Temer em carta à Dilma no fim do ano passado, em que ele se queixou de ser “um vice decorativo”.
“Temos que desembarcar do governo e construir a unidade em torno do vice-presidente Michel Temer e do partido, para socorrer o Brasil e ajudá-lo a sair do precipício onde se encontra. Isso é incompatível com seguir cegamente um governo que nunca nos ouviu ou respeitou”, diz um trecho da moção que está recebendo apoio de vários outros estados. Ontem, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB- RJ), foi irônico ao ser perguntado se ocorreria o desembarque:
— O PT já está desembarcando. O PMDB talvez sim, mas não sei.
Enquanto parte dos dirigentes estaduais e deputados trabalham abertamente pelo rompimento, há outros setores do PMDB, como parte do Senado, com viés menos crítico ao governo. Essa posição se estende aos atuais ministros. O presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), que oscila entre aliado de primeira hora de Dilma e seu potencial algoz, adotou uma posição mais independente. Sua relação com Temer está momentaneamente pacificada e, nas últimas semanas, passou a sustentar uma agenda de votações no Senado com o apoio da oposição.
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