Para usar uma expressão popular, partidos de oposição e movimentos contra a presidente Dilma Rousseff (PT) atiraram no que viram, acertaram no que não viram.
No final do ano passado, mesmo antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) botar freios no rito de impeachment adotado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, líderes oposicionistas mostravam-se dispostos a, de forma temporária, diminuir a pressão sobre o governo.
Calculavam que três meses de inevitável paralisia provocariam o agravamento da crise econômica; o apoio ao afastamento de Dilma, que parecia refluir em dezembro, voltaria com toda a força em março.
Por motivos muito diversos, os dias que antecedem as manifestações do próximo dia 13 têm sido marcados por grande agitação política. O combustível, entretanto, não veio exatamente da divulgação do PIB ou dos dados sobre a inflação e o desemprego, mas das frentes investigativa e judicial.
À recente prisão de João Santana, marqueteiro das campanhas de Dilma, somou-se a notícia, conhecida na quinta-feira (3), de que Delcídio do Amaral (PT-MS) fechara acordo de delação premiada. Um dia depois, o ex-presidente Lula viu-se obrigado a comparecer perante a autoridade policial.
Seguiram-se, e ainda não cessaram, discursos inflamados acerca da condução coercitiva de Lula. Num exagero retórico, Dilma a classificou como "violência injustificável"; o ex-presidente aproveitou a ocasião para assumir o papel de vítima e atiçar a militância.
Por coincidência, Michel Temer (PMDB) tinha agenda pública no domingo (6). Tietê, cidade do interior paulista onde o vice-presidente nasceu, comemorava 174 anos.
Na solenidade, sem transparecer a mesma ânsia de agosto ou dezembro, Temer novamente defendeu a união para tirar o país da crise, num esforço para o qual contribuiria "a iniciativa privada, prestigiada pelo poder público". A jogada estava feita; o vice quer soar como a voz ponderada num ambiente cada vez mais conflagrado.
Parte do PMDB também se mexeu. Alguns diretórios planejam discutir, no próximo final de semana, a ruptura com o PT.
Enquanto isso, vendo o governo acuado, oposicionistas abandonam qualquer compromisso com a responsabilidade e anunciam a intenção de bloquear a pauta do Congresso até que se constitua a comissão especial para discutir o impeachment de Dilma na Câmara.
Nesta segunda-feira (7), dois novos lances abriram o tabuleiro. Eduardo Cunha, cuja presença tem contaminado o processo de impeachment, foi notificado do processo de cassação no Conselho de Ética. O STF, por sua vez, começou a liberar os votos que definiram o rito do afastamento presidencial.
Em ritmo frenético, as peças se movem. Desde que não haja atropelos, é melhor assim. Seja qual for o desenlace, o Brasil não pode continuar refém da crise política.
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