• PT cobra pedágio de Dilma agora que Lula se diz candidato
- Valor Econômico
Enquanto era Dilma contra Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados, a balança pendeu para o lado da presidente da República. Ajudou inclusive a barrar o andamento do processo de impeachment. Agora são Lula, Dilma e o PT contra Sergio Moro. O "aplaudaço" ao juiz, na noite de sexta-feira, parecem indicar um final diferente, apesar dos protestos contra os procedimentos de Moro e da Polícia Federal em relação a Lula. A prova dos nove é domingo, 13 de março.
Lula foi a 117ª condução coercitiva autorizada por Sergio Moro. O que mostra um padrão da força-tarefa, segundo os advogados que criticam a maneira como é tocada a Operação Lava-Jato, muitas vezes nos limites do estado de direito. Mas o juiz Moro teria muito o que explicar se tivesse tratado o ex-presidente de forma diferente dos demais. O ex-senador Pedro Simon dizia que se fez a CPI dos corruptos, mas não a dos corruptores. Essa é a bússola de Moro.
Lula explorou o quanto pode o incidente. Deixou as dependências do aeroporto de Congonhas, onde foi ouvido pela Polícia Federal, direto para o PT, no centro velho de São Paulo, que também já estava tomado por manifestantes. A mesma coisa em São Bernardo, para onde foi em seguida. Em princípio, nada ficou acertado sobre sua participação, à noite, no evento programado para o Sindicato dos Bancários.
Em atos anteriores, o PT nunca havia conseguido lotar a quadra do sindicato, com capacidade para algo em torno de três mil pessoas. "Desta vez não tinha como andar na quadra", disse uma das pessoas que acompanharam Lula, ao longo do dia. O ex-presidente estava em casa, quando soube que o sindicato estava lotado, e decidiu ir. Falou por 1h27min.
Até o fim deste mês, o PT e partidos satélites da Frente Brasil Popular têm programadas mais três manifestações. Uma hoje, em comemoração ao Dia da Mulher, um ano depois do pronunciamento de Dilma que desencadeou a onda de panelaços no país. O outro será no dia 18, e o terceiro em 31 de março, não por acaso a data do aniversário do golpe militar de 64. Essa é a programação oficial do PT, mas a cúpula partidária reconhece que "tem muita gente com atividades autônomas" previstas para o 13 de março, mesmo dia que a oposição vai às ruas protestar contra o governo federal.
Segundo o PT, serão atividades fora do eixo de concentração das manifestações contra Dilma e Lula. O presidente do PSDB, Aécio Neves, condenou as convocações que o presidente do PT, Rui Falcão, fez da militância para defender Lula. Disse que ele não fez nenhum apelo à "serenidade". Falcão respondeu que o PT estava "sereno" e que Aécio deveria esperar pela eleição de 2018 e não se mostrar tão ansioso pelo poder. O bate-boca certamente não contribui para o desarmamento dos espíritos e o trabalho da polícia.
A presidente Dilma entrou no enredo pela insatisfação do PT. Seu pronunciamento na sexta-feira foi muito criticado pelos dirigentes partidários e pelos mais próximos de Lula, que na prática reverberavam o que dizia o líder. Incomodou, particularmente, Dilma se declarar "inconformada" com a condução coercitiva de Lula e "indignada" com a delação do ex-líder Delcídio do Amaral. Dilma correu para São Bernardo.
O que o PT quer de Dilma é que a presidente "perceba" o "golpe" em movimento, que também é contra ela. E que a sua base social não é o mercado e não são os coxinhas. O que a cúpula partidária espera é que ela se dirija ao povo e anuncie a retirada de pauta da reforma da Previdência. Até mesmo porque não há chance de a proposta passar no Congresso.
Dilma teve um jantar com o PDT. Pediu três coisas. Primeiro, apoio à mudança nas regras de exploração do pré-sal feita no Senado. Os pedetistas responderam que não votam o projeto aprovado e são contrários a mexer na política do pré-sal. O segundo ponto foi a CPMF. Os parlamentares responderam que ainda não têm uma posição firmada (o PT apoia). Por fim, Dilma falou sobre a reforma previdenciária. O PDT disse que era contra. Então são 20 deputados do PDT, se fizer a pergunta ao PT serão mais 60, a mesma coisa no PCdoB. "Onde ela vai encontrar voto para aprovar a PEC da Previdência?", pergunta um dirigente petista.
Só haverá uma aproximação maior de Dilma em relação a Lula se a presidente der uma guinada na economia e assuma que o Executivo também é um dos poderes da República - independentes e harmônicos - e não pode assistir inerte a consecução de um golpe. Para o PT, não havia nenhuma razão para a condução coercitiva de Lula, a não ser o espetáculo midiático para animar o 13 de março. O monitoramento do partido nas redes sociais indica um aumento da mobilização para o domingo, após a publicação da delação de Delcídio e da sexta-feira.
No momento em que a candidatura Lula está posta, o que deve abreviar ainda mais o governo de Dilma, esse é o pedágio que o PT cobra da presidente. No próprio PT há quem diga que ela estará perdida de vez, se pagar.
PMDB quer saltar fora
A delação do senador Delcídio do Amaral e a condução coercitiva de Lula reforçaram as alas do PMDB que defendem o rompimento com o governo federal, na convenção marcada para este sábado.
A Região Sul toda fechou com essa posição, num encontro realizado no fim de semana em Porto Alegre. Além do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, também defendem o rompimento as seções do PMDB da Bahia, Espírito Santo, Acre e Pernambuco, entre outras.
A carta propõe que o partido "se afaste dessa desastrosa condução do país e atue de forma independente do governo federal". Prudente, o vice-presidente Michel Temer cancelou sua ida ao encontro. Os dirigentes do PMDB ainda esperam que a poeira assente para indicar o rumo que pretendem tomar. Mas a posição dos governistas está enfraquecida. Símbolo maior desse enfraquecimento é o senador Roberto Requião (PR), um dos principais esteios do PT no PMDB, que também esteve em Porto Alegre e assinou a carta de rompimento.
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