sexta-feira, 25 de março de 2016

PMDB do Rio muda de posição e decide romper com governo

• Diretório fluminense era principal centro de apoio a Dilma no partido

Fernanda Krakovics e Marco Grillo - O Globo

Bastião governista até o início do mês, o PMDB do Rio resolveu retirar seu apoio à gestão Dilma Rousseff e pretende votar majoritariamente a favor do desembarque do governo, em reunião do Diretório Nacional do partido, marcada para terça- feira. A saída complicará a situação de Dilma no plenário da Câmara, caso o processo de impeachment seja admitido pela comissão especial: a bancada do PMDB do Rio é a maior do partido, com 12 deputados.

A decisão foi comunicada ao vice-presidente da República e presidente do partido, Michel Temer, pelo presidente do PMDB do Rio, deputado Jorge Picciani. Os dois se encontraram anteontem em um hospital do Rio durante visita ao governador Luiz Fernando Pezão. Segundo uma fonte, o PMDB do Rio, agora, “está fechado com Temer”. Pezão, bastante próximo a Dilma, com quem conversou ontem por telefone, não irá à reunião por estar doente.

Pedido de outros diretórios
A convocação do diretório nacional foi feita por Temer a pedido de 14 direções estaduais do PMDB. A gota d'água para o desembarque foi a nomeação de Mauro Lopes como ministro da Secretaria de Aviação Civil, contrariando decisão da convenção nacional do partido. Desde então, mais quatro diretórios aderiram à tese do rompimento. Hoje, a favor do governo estão apenas Amazonas, Alagoas, Amapá, Sergipe, Maranhão, Paraná, Mato Grosso, Pará e Minas Gerais. E os defensores do rompimento dizem que o diretório de Minas será o próximo a abandonar o barco de Dilma.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, que depende da parceria com o governo federal para as Olimpíadas, também não deve comparecer à reunião do diretório. Já o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), deverá ter posição oposta à do pai, Jorge Picciani, e votar contra a saída. Ele foi reeleito para a liderança do partido com o apoio do Palácio do Planalto. Na ocasião, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, foi exonerado para voltar à Câmara e apoiar a recondução de Picciani.

Nas últimas eleições, no entanto, a família Picciani fez campanha para o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves. Jorge Picciani coordenou a campanha do tucano no Rio e criou o movimento “Aezão”, que pregava o voto em Aécio e em Pezão.

Até o vazamento da delação do senador Delcídio Amaral ( sem partido- MS) e a condução coercitiva do ex-presidente Lula para depor na Polícia Federal, no início do mês, Jorge Picciani se mostrava contra o impeachment. Em fevereiro, disse ao GLOBO que não achava ter havido crime de responsabilidade.

Após a delação de Delcídio e o depoimento de Lula, Jorge Picciani passou a dizer a aliados que o governo cairia em três meses. Ele passou a duvidar da capacidade de reação do Planalto e a afirmar que o PMDB do Senado, que tem sido o esteio do governo, não terá condições de segurar o impeachment, em caso de aprovação pela Câmara.

— Água morro abaixo e fogo morro acima, ninguém segura — disse Picciani a pessoa próxima.

Rio tem 14 votos
Os 12 integrantes do PMDB do Rio no Diretório Nacional têm direito a 14 votos, pois Jorge Picciani vota duas vezes, por ser presidente estadual do partido, enquanto Leonardo Picciani também vota como líder na Câmara. Os outros membros são Paes, Pezão, o ex-governador Sérgio Cabral, os secretários Rafael Picciani, Pedro Paulo, Marco Antônio Cabral, Paulo Melo, o ex-secretário Régis Fichtner, o ex-ministro Moreira Franco e o deputado Washington Reis. O ministro Celso Pansera, os prefeitos Dr. Aluízio (Macaé) e Nelson Bornier (Nova Iguaçu) e o deputado Fernando Jordão são suplentes.

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