• Vice-presidente desiste de viajar a Portugal, para tentar unidade no PMDB
Catarina Alencastro e Eduardo Bresciani - O Globo
O vice- presidente da República, Michel Temer, cancelou a viagem que faria a Portugal no domingo para participar de um evento que reuniria líderes da oposição, como os tucanos Aécio Neves e José Serra, e os ministros do Supremo Tribunal Federal ( STF) Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Temer atendeu a um apelo de correligionários do PMDB para ficar no país porque o partido discutirá na próxima terça- feira, dia 29, se desembarca do governo Dilma Rousseff. Uma ala do partido que resiste ao rompimento, liderada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB- AL), tenta adiar a data da reunião do diretório da legenda para discutir o desembarque. Um dos argumentos era justamente a ausência de Temer no dia da reunião.
Os peemedebistas favoráveis ao impeachment não concordaram com o adiamento. Temer, então, decidiu permanecer para manter contato com os dois grupos e buscar uma solução para evitar uma divisão do partido após um eventual desembarque. Ainda assim, Temer não deve participar da reunião do diretório.
A viagem vinha sendo criticada porque o seminário em Lisboa, intitulado “Constituição e crise — A Constituição no contexto das crises política e econômica”, passou a ser visto como uma reunião para tratar do Brasil “pós- Dilma”.
Diante do caráter oposicionista do encontro, políticos portugueses convidados a participar do seminário deixaram claro o desconforto com o que passou a ser visto como palco de um “governo no exílio”. Há um movimento de esvaziamento do evento entre figuras ilustres inicialmente confirmadas. O mais importante convidado, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, já avisou que será muito difícil comparecer. Nos cartazes do seminário Rebelo de Sousa constava como orador que iria encerrar o evento. O colóquio tinha ainda mais um motivo para ter o presidente, já que será sediado na Universidade de Lisboa, onde, até o mês passado, Rebelo de Sousa lecionava.
— É muito difícil que ele vá, ele tem uma série de compromissos, e será muito difícil conciliar todas as solicitações que ele tem para esse dia — informou ao GLOBO, por telefone, o assessor de imprensa do presidente português.
Além dele, o outro membro do governo português, Jaime Gama, que é ministro de Negócios Estrangeiros, também cancelou sua participação. Embora aleguem problemas de agenda, o motivo, segundo políticos portugueses, é que o evento poderá ter “tom conspiratório” e tratar de justificativas para o impeachment da presidente Dilma.
Da parte brasileira, o seminário é promovido pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), coordenado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. Entre os principais oradores brasileiros estarão os senadores tucanos José Serra e Aécio Neves. Segundo o jornal “Público”, um dos principais de Portugal, fontes oficiais tratavam o evento como palco de um “governo no exílio”. Até mesmo o ex- primeiro-ministro Pedro Passos Coelho estaria cancelando sua ida.
— Parece-me um seminário muito enviesado, só por um lado da questão, tendo na lista de oradores brasileiros somente possíveis beneficiários de um eventual impeachment. As mesas de debate quase têm como preocupação procurar uma justificativa teórica ou acadêmica para o impeachment — avaliou ao GLOBO Rui Tavares, ex- deputado do Parlamento Europeu e historiador.
A presença de Temer, cancelada ontem pelo próprio, vinha sendo criticada no Palácio do Planalto. Um assessor dizia ontem que ele não teria coragem de aparecer em Lisboa numa foto com Aécio e Serra: — Seria a foto do golpe. A decisão de desistir da viagem foi anunciada após o Diário Oficial da União publicar ontem a exoneração de Henrique Pires, presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Ele foi indicado para a função justamente por Temer, que não foi consultado antes da exoneração. Não há registro de que Pires tenha pedido para deixar a função. (Colaborou Eduardo Barretto)
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