• Governo abandona qualquer prudência fiscal e proporá ao Congresso aumento de despesas, com a mesma política que já levou o país à crise atual
Mesmo sem ter ainda a nomeação como ministro referendada na Justiça, o ex-presidente Lula ostenta poderes para levar o governo a se desfazer de qualquer resquício de prudência fiscal e jogar todas as fichas no aumento de gastos. Pelo jeito, vai para o tudo ou nada. Só isto explica que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, apanhado em gravação legal de um telefonema recebido de um Lula com entonação de voz de superior hierárquico autoritário, tenha voltado atrás no contingenciamento de R$ 21 bilhões anunciado na terça-feira e passado a defender um elevado déficit público, este ano, de 1,5% do PIB.
Naquele telefonema grampeado pela PF, o ex-presidente reclamou do ministro da Fazenda, de maneira antirrepublicana, da auditoria feita pela Receita Federal em seu instituto, e ainda lhe cobrou uma devassa em empresas de comunicação, sem justificativa. Mais um exemplo de como o lulopetismo usa o Estado para seus fins privados.
Não se sabe se Lula pressionou da mesma maneira Barbosa para assumir de vez uma postura “desenvolvimentista”. Pode não ter sido necessário, pois deve ter acertado tudo na linha direta com Dilma, talvez agora menos angustiada ideologicamente, com a guinada definitiva do seu governo para este grave equívoco econômico.
Em um ato kamikaze, o governo pedirá ao Congresso para que, na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano, não só reduza a meta de superávit fiscal de R$ 24 bilhões para R$ 2,8 bilhões, como também permita abater, como frustração de receitas, R$ 99,4 bilhões. A meta anterior não seria mesmo atingida, mas agora o Planalto quer aprovar um déficit de 1,5% do PIB. Vai fechar no vermelho o terceiro ano consecutivo.
Será fatal para as expectativas nos mercados. Decreta, assim, novos rebaixamentos do Brasil por agências de avaliação de risco, sinônimo de mais encarecimento de crédito no exterior para o país. Afinal, a dívida bruta, já acima de preocupantes 65% do PIB, deverá atingir, estima- se, 75,5 % este ano, havendo projeções de 101% do PIB em 2019. Financiar a dívida interna também tende a ficar mais caro.
Trata- se, na verdade, da reaplicação do mesmo “novo marco macroeconômico”, tentado desde o segundo mandato de Lula e enfatizado no primeiro governo Dilma. O “novo marco” é o grande responsável pela atual crise. Confirma- se um dos princípios irônicos formulados por Mário Henrique Simonsen, na época da sucessão de planos econômicos frustrados: “Uma experiência que dá errado várias vezes deve ser repetida até que dê certo.”
Ao dobrar a aposta na heterodoxia repetitiva, o Planalto continuará desestimulando os investimentos privados, impossíveis de serem compensados pelos públicos. Condena o país a se manter em crise econômica.
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