sexta-feira, 25 de março de 2016

Lista explosiva – Editorial / Folha de S. Paulo

Nervosinho. Drácula. Caranguejo. Revelando insólita intimidade, os codinomes se referem respectivamente ao peemedebista Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, a Humberto Costa (PT-PE), líder do governo Dilma no Senado, e ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Constam de copiosa lista de políticos dos mais diversos partidos, encontrada mês passado na casa de um executivo da Odebrecht e tornada pública nesta semana.

Não está claro, por enquanto, se todos receberam propinas, se parte deles apenas aproveitou recursos oriundos do caixa dois da construtora ou mesmo se o rol inclui nomes simplesmente contemplados por doações eleitorais declaradas.

Trata-se, em todo caso, de mais um elemento significativo na vasta rede criminosa de relações público-privadas cuja investigação se desenvolve na Operação Lava Jato.

O impacto dessa lista –que envolve mais de 300 membros de 24 partidos– é devastador. Incluem-se ministros de Estado, os presidentes da Câmara e do Senado, governadores e prefeitos.

Oposicionistas e governistas são citados: dos tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin aos democratas ACM Neto e José Agripino, passando por peemedebistas como Luiz Fernando Pezão e José Sarney, de Fernando Haddad (PT) a Celso Russomanno (PRB), de Aldo Rebelo (PC do B) a Paulinho da Força (SDD), são muitas as lideranças que, a partir de agora, precisarão dar explicações à opinião pública e às autoridades judiciais.

Ainda que nem todos tenham se envolvido em casos comprováveis de corrupção, tudo parece confirmar a tese, explorada com indisfarçável cinismo pelas hostes governistas, de que todo o sistema político brasileiro se vê comprometido pela ilegalidade e pela drenagem do dinheiro público através de contratos de obras públicas.

O fato de que tantos estejam, em graus diversos, expostos ao mesmo tipo de suspeita não elimina, como seria o desejo dos atuais ocupantes do poder, a necessidade de pronta punição aos envolvidos no escândalo da Petrobras.

Tornam-se mais próximos, contudo, os riscos de que a própria Operação Lava Jato venha a conhecer novos obstáculos. Seja pelo excesso de ramificações, seja pela pressão, agora multilateral, de variados atores, a paralisia ou o abafamento das investigações passa a ser uma possibilidade –que cumpre repudiar com ênfase.

A identificação de verdadeiro "departamento de propinas" na sede da Odebrecht (o Setor de Operações Estruturadas), bem como a tardia e hipócrita nota da empresa, anunciando intuito de fazer acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, dão novo fôlego às investigações em curso.

Que não se interrompam. Não importa o partido, o nome ou o cargo dos que venham a soçobrar neste processo. É a democracia brasileira que, passada a crise, precisa reemergir mais forte.

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