sábado, 28 de maio de 2016

Helena eterna – Ruy Castro

- Folha de S. Paulo

A mulher ao microfone do roof do hotel Mercure Leblon, cantando semana passada para uma plateia de admiradores extasiados, é uma lenda da música brasileira. Nos anos 50 e 60, ela foi uma estrela da noite e do disco, com clássicos que tornou seus, como "Na Cadência do Samba", de Ataulpho Alves, "Prece", de Vadico, e "Mora na Filosofia", de Monsueto, todos com parceiros, e canções feitas para ela, pessoais e intransferíveis, como "Boa Noite, Rio", de Haroldo Barbosa e Luiz Reis, "Verdade da Vida", de Raul Mascarenhas e Concessa Colaço, e "Estão Voltando as Flores", de Paulo Soledade.


A cantora, claro, é Helena de Lima. Completou 90 anos há poucos dias e sua voz tem hoje praticamente a mesma potência que em seu apogeu. Firme, de pé e com as letras na ponta da língua, ela leva as notas aonde quer, sustenta-as lá no alto e só as deixa cair aos poucos e com total controle. Nunca vi igual em sua idade. Com o tempo, Helena poderia ter se transformado numa "diseuse", a intérprete prudente e recatada, que mais "diz" a canção do que a canta. Mas ela não quer saber desse recurso — canta como sempre cantou.

Helena não é a única sobrevivente de sua geração. Apenas entre as cantoras, continuam na ativa Angela Maria, 88; Lana Bittencourt, 85; Doris Monteiro, 82; Elza Soares, 78; e sua quase xará Ellen de Lima, 78. Mas até elas devem invejar o seu gogó e a alegria de estar ali, no palco, impressa no sorriso que não lhe sai do rosto.

Há alguns anos, Helena recolheu-se ao Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá. Feliz e à vontade entre velhos companheiros, só sai às vezes, levada pela amiga Marina Teixeira, para apresentações — outra recente, e gloriosa, foi no enorme Imperator, no Méier.

Fora da música, a memória de Helena tem se transformado, cada vez mais, num bonito e eterno presente.

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