Os dados mais recentes do mercado de trabalho inspiraram otimismo entre alguns analistas. A taxa de desemprego foi de 11,2% no trimestre terminado em maio, de acordo com a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), o mesmo percentual registrado no trimestre anterior, de fevereiro a abril, e inferior à média de 11,4% esperada pelo mercado. Os números mostraram também a estabilidade da população ocupada, depois de meses seguidos de diminuição.
Mas ainda não é possível enxergar alguma melhoria consistente do mercado de trabalho, a curto prazo. Analisando o comportamento do emprego por um período mais longo, o quadro continua negativo. Na comparação com igual trimestre de 2015, quando o desemprego estava em 8,1%, houve um aumento de 3,1 pontos percentuais. O número de desocupados, ou seja, daqueles que procuram, mas não encontram trabalho, saltou 40,3% em um ano, ou nada menos do que 3,3 milhões de pessoas, para a marca recorde de 11,4 milhões; e há mais pessoas procurando emprego.
Quando se mergulha mais fundo nos dados da Pnad Contínua, vários outros motivos causam preocupação. São evidentes os sinais de precarização do mercado de trabalho. Em um ano, 1,5 milhão de trabalhadores perderam o emprego com carteira assinada, o que representa uma queda de 4,2% frente a maio de 2015, reduzindo o contingente de trabalhadores do mercado formal a 34,4 milhões de pessoas. O número de empregados do setor privado sem carteira assinada, que havia caído para 9,7 milhões no início do ano, voltou para o patamar de 10 milhões.
Tão ou mais preocupante do que isso é a perda de fôlego do trabalho por conta própria, o segmento dos autônomos, ao qual muitos recorrem quando perdem o emprego, muitas vezes optando por aplicar os recursos do seguro-desemprego e o FGTS para empreender e tentar um negócio próprio. No trimestre encerrado em maio, o número de trabalhadores por conta própria era de 22,97 milhões de pessoas no país, 1,3% a menos do que no trimestre terminado em abril. A redução de 314 mil pessoas foi a maior registrada desde o período de fevereiro a abril de 2014. Em um ano, quase 1 milhão deixou de trabalhar por conta própria. Isso significa que a crise tornou o ambiente menos favorável para empreender e essas pessoas fecharam seus empreendimentos e devem engrossar a fila dos desempregados. Até o ano passado, a cada aumento do desemprego correspondia uma expansão do trabalho por conta própria.
Outro sinal de fraqueza é a piora do rendimento real, que encolheu 2,7%, frente ao ano passado, pelo oitavo mês consecutivo, com impacto na redução da massa salarial, que foi estimada em R$ 175,6 bilhões, com queda de 3,3% em relação a 2015 e estável em comparação com o trimestre anterior. A diminuição dos salários afeta negativamente o consumo e a recuperação da economia.
A deterioração do mercado de trabalho tem penalizado especialmente os mais jovens. Desde o terceiro trimestre de 2012, vem diminuindo o percentual dos jovens de 14 a 24 anos ocupados, de 44% para 37% no primeiro trimestre deste ano. Inicialmente, os jovens saíram do mercado de trabalho para estudar, percentual que aumentou de 35% para 38,2% no fim de 2014. Mas, com a crise, esse percentual recuou para perto de 36%.
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, focado no mercado formal, mostram um quadro semelhante, que registra a destruição de 1,8 milhão de vagas nos 12 meses terminados em maio, um terço das quais na indústria da transformação, e com participação crescente dos setores de serviços, que até então vinha absorvendo parcela importante dos desempregados, e da construção civil.
Dessa forma, apesar da sinalização de melhora dos dados de emprego em maio e de indicações de que a economia pode ter deixado o fundo do poço para trás, a expectativa é que o mercado de trabalho pode se deteriorar ainda. A tendência é que as empresas só voltarão a contratar quando tiverem certeza da recuperação da economia, até porque contratar e demitir têm um custo. Por isso, as previsões são de que a taxa de desemprego deve até aumentar, para 10,9% a 13% no último trimestre deste ano e só devem começar a declinar no segundo semestre de 2017.
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