“Mas o acontecimento mais importante foi a aprovação pelo Senado por 14 votos a 5 do relatório recomendando o impeachment definitivo da presidente afastada.
Apesar do resultado folgado, os cinco derrotados não se conformaram e insistiram na versão de que se trata de um “golpe”.
Um deles, o líder do PT, Humberto Costa, chegou a comparar a situação de agora com a de 1964, quando os militares tomaram o poder.
Ainda bem que houve a sensatez do seu colega Cristovam Buarque para lembrar diferenças fundamentais, entre as quais a de que naquela época os generais depuseram João Goulart não pelos votos parlamentares, mas pelos tanques. “O Senado não é um quartel”, disse.
O presidente também não se abrigou no palácio, como agora, para aguardar em segurança durante 180 dias que o Congresso decida livremente o seu destino político. Jango foi obrigado a ir para o exílio no exterior, onde morreu 12 anos depois e só voltou ao Brasil para ser sepultado.
Costuma-se dizer que o país não tem memória. Mas às vezes são alguns políticos os que sofrem de esquecimento, uma espécie de amnésia de conveniência.”
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Zuenir Ventura é jornalista. ‘Um pouco de quase tudo’, O Globo, 6/8/2016
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