Por Andrea Jubé e Bruno Peres -Balor Ecomômico
BRASÍLIA - A escalada da crise entre o ex-ministro Marcelo Calero e o ministro Geddel Vieira Lima colocou o Planalto em alerta máximo após informação de que, à Polícia Federal, Calero afirmou que o próprio presidente Michel Temer o teria pressionado para encontrar uma solução para o caso. O porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, rebateu a acusação e disse que Temer apenas procurou "arbitrar conflitos" entre os ministros. Senadores da oposição decidiram apresentar pedido de impeachment.
Calero e Odebrecht deixam Planalto em alerta máximo
O Palácio do Planalto está em alerta máximo diante da escalada da crise política, que ganhou desdobramentos em duas frentes: ontem o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero implicou o presidente Michel Temer na acusação de ingerência política contra o ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, em depoimento na Polícia Federal. A resposta de Temer foi o contra-ataque, por meio do porta-voz presidencial.
Além disso, na próxima semana, os executivos da empreiteira Odebrecht formalizam a "megadelação" premiada, com potencial para comprometer políticos de todos os matizes, inclusive ministros de Temer. Mas a palavra de ordem no Planalto é não deixar o governo se tornar "refém da Lava-Jato".
Ontem o Planalto recebeu com sobressalto a nova ofensiva de Marcelo Calero, que envolveu Temer diretamente na "crise Geddel". A apreensão foi ainda maior diante dos rumores de que Calero teria supostamente "gravado" conversas privadas com o presidente.
O jornal "Folha de S. Paulo" revela que Calero disse à Polícia Federal que Temer o "enquadrou" para achar uma "saída" para que o processo fosse encaminhado à Advocacia-Geral da União (AGU), porque a advogada-geral Grace Mendonça teria uma solução. Foi uma reviravolta. Apesar do receio quanto à delação premiada da Odebrecht, o clima no Planalto ontem era de expectativa com a "promessa de calmaria" em relação à crise envolvendo Geddel e Calero.
De acordo com o porta-voz, Alexandre Parola, Temer "sempre endossou caminhos técnicos para solução de licenças em obras ou ações de governo" e procurou "arbitrar conflitos" entre os ministros e órgãos subordinados ao Ministério da Cultura, sugerindo a avaliação jurídica da Advocacia-Geral da União (AGU).
"O presidente trata todos seus ministros como iguais. E jamais induziu algum deles a tomar decisão que ferisse normas internas ou suas convicções. Assim procedeu em relação ao ex-ministro da Cultura, que corretamente relatou estes fatos em entrevistas concedidas", disse o porta-voz. "É a mais pura verdade que o presidente Michel Temer tentou demover o ex-ministro de seu pedido de demissão e elogiou seu trabalho à frente da pasta", completou.
O receio das gravações aparece na mensagem do porta-voz. "Especialmente, surpreendem o presidente da República, boatos de que o ex-ministro teria solicitado uma segunda audiência na quinta-feira somente com o intuito de gravar clandestinamente conversa com o presidente da República para posterior divulgação".
Senadores da oposição decidiram ingressar com um pedido de impeachment contra Temer. Segundo o líder da minoria, senador Lindbergh Farias (PT-RJ), "Temer usou o cargo e agiu como sócio do Geddel. Esse fato desmoraliza mais ainda o presidente ilegítimo", afirmou o senador.
Ontem um assessor disse ao Valor que, até mesmo a abertura de um inquérito pela Procuradoria-Geral da República para investigar a acusação - de que Geddel pressionou o ex-titular da Cultura para interferir em uma decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), relativa ao Edifício La Vue, em Salvador, onde o ministro tem apartamento -, não forçaria a saída de um dos braços direitos de Temer. "Porque a abertura do inquérito é um desdobramento natural da investigação."
A PGR recebeu o teor do depoimento de Calero. A documentação foi enviada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Os procuradores vão avaliar as declarações e decidir se pedirão ao Supremo a abertura de inquérito contra Geddel.
A advogada-geral da União, Grace Mendonça, divulgou nota ontem à noite para afirmar que jamais recebeu orientações para direcionamento nas manifestações da AGU e que tampouco aceitaria qualquer tipo de interferência na atuação independente e técnica do corpo jurídico da instituição.
O Planalto monitora a evolução da delação premiada da Odebrecht, que poderá envolver ministros do governo Temer, segundo vazamentos dos documentos que já vieram a público, que mencionam citações a auxiliares estratégicos, como o próprio Geddel, o secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, o chanceler José Serra, e os ministros das Cidades, Bruno Araújo (PSDB) e da Defesa, Raul Jungmann (PPS). Todos rechaçam as denúncias.
O ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró citou ontem, ao juiz federal Sergio Moro, que Geddel faria parte de um grupo do PMDB beneficiário de propinas em campanhas eleitorais. Em outro momento, o vice-presidente de Relações Institucionais da construtora Claudio Melo Filho envolveu Moreira Franco, Geddel e o líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), em sua delação.
O jornal "Folha de S. Paulo" revelou, ainda, que a Odebrecht apontou à Lava-Jato dois nomes como sendo operadores de R$ 23 milhões, repassados pela empreiteira via caixa dois à campanha do hoje chanceler José Serra na eleição de 2010. E os ministros Bruno Araújo e Raul Jungmann têm os nomes citados em planilhas da Odebrecht, mas onde não está claro se mencionam doações legais ou caixa dois.
Um assessor esclarece que o Planalto já tem estratégia para "não ficar a reboque da Lava-Jato". E essa estratégia já está sendo colocada em prática, num momento em que Temer discursa duas vezes por dia e apresenta as agendas positivas do governo, como o novo cartão Construcard, voltado para a classe média.
Nesta semana, Temer discursou duas vezes por dia. Na segunda-feira, abriu e encerrou a reunião do Conselhão. Na terça-feira, avocou para o Planalto a reunião com os governadores para solucionar a crise dos Estados. Amanhã e domingo, ele participará de eventos externos em São Paulo. Todo esse movimento, explica um assessor, tenta mostrar que o governo está trabalhando, apesar da crise política. (Colaborou Vandson Lima)
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