- Folha de S. Paulo
Faz mais de um ano, o total de dinheiro emprestado pelos bancos cai no Brasil. O crédito para as pessoas físicas diminui porque a renda baixa e, em parte menor, porque pagamentos de dívidas ainda são pesados.
As despesas com juros e amortização do principal, com o serviço da dívida, praticamente não baixam desde o início do ano. Levam desde então mais ou menos a mesma parcela da renda das famílias, indicam números calculados pelo BC.
Um motivo dessa persistência do peso do endividamento deve ser, óbvio, a própria baixa da renda média.
Parece um raciocínio um tanto circular. É mesmo. O consumo está bastante encalacrado nessa espiral para baixo. As vendas de varejo caem nesse redemoinho de crise, carros e material de construção inclusive.
As famílias fazem esforço para reduzir as dívidas e seu peso no orçamento mensal. Enxugam gelo, por causa dos juros altos. Desde março de 2014, está em alta a parcela dos pagamentos de juros no serviço da dívida, no "total das prestações".
Em março daquele ano, quando, aliás, começava a recessão, os juros representavam 40% do serviço da dívida. Agora, levam 48%.
Esta recessão é tão especialmente horrível e pegajosa também porque famílias e empresas se endividaram demais. Um dos economistas menos animados com a retomada econômica, Carlos Kawall, do Safra, vem batendo nessa tecla e também nesse bumbo. Faz tempo que prevê em seus relatórios crescimento do PIB de apenas 0,5% no ano que vem.
O grande endividamento começou ainda em 2009, incentivado a princípio por um programa do governo de contenção dos efeitos da crise mundial. Mas não parou por aí. Foi uma das nossas desgraças.
O endividamento teve um pico em 2012. Se a conta inclui imóveis, a expansão de empréstimos durou até o início de 2015.
Havia incentivos artificiais para a compra de bens duráveis (como carros) –artificiais porque insustentáveis, baseados em redução da receita do governo (cortes de impostos), por exemplo. Havia subsídios (descontos) nos juros, bancos públicos empurrando crédito barateado, também insustentável, pois bancado por endividamento do governo (que bancava os bancos públicos).
Essa história é velha. O problema agora é que estamos encalacrados.
Aparentemente, estamos em um fundo do poço no crédito, desculpe-se o clichê ainda mais desacreditado. Estamos catatônicos, paralisados na lama desse fundo.
Uma retomada mesmo lentíssima depende da queda das taxas de juros e de investimentos em infraestrutura de serviços públicos (as empresas estão com enorme capacidade ociosa). É só o que temos para sair do buraco. Virá devagar, se tanto.
Em outubro, soube-se ontem pelas estatísticas do Banco Central, aumentaram um tico as concessões de crédito (dinheiro novo emprestado). O total de dinheiro emprestado, o estoque de crédito, parou de cair, mas ainda está 9,1% abaixo de onde estava faz um ano (em termos reais, descontada a inflação).
Apesar da melhora mínima, as concessões, os empréstimos novos, estão em níveis críticos. Somado o dinheiro emprestado nos últimos 12 meses, as concessões caíram quase 16% (em relação a outubro de 2015). No caso das concessões para empresas, queda de mais de 20%.
Um desastre.
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