- Folha de S. Paulo
O primeiro semestre de 2017 deve ser ainda mais turbulento. Nesse período coincidirão os auges da depressão econômica, da Lava Jato, da crise política e da mais ambiciosa reforma no regime dos gastos públicos já experimentada.
Será difícil e caro atravessá-lo, mas a excepcionalidade vivida desde 2013 deixou suas lições. Abaixo vai uma sugestão para a pessoa com responsabilidades públicas, esboços de um manual da travessia baseados nas cicatrizes mais recentes.
1. Fique o mais próximo possível da literalidade do texto legal. O momento não é propício a invencionices nem tampouco a surtos de egocentrismo na aplicação das normas. Não fatie a Constituição; não force interpretações que atropelem precedentes; não descumpra a palavra dada.
2. Exerça o seu papel, nem mais nem menos. Procuradores investigam e denunciam, não fazem política. Juízes sentenciam, não representam o eleitorado. Congressistas legislam, mas não estão livres para escolher qual ordem judicial acatarão. Movimentos democráticos criticam políticos, mas não conspurcam a sacralidade do Congresso, não depredam e não invadem dependências públicas.
3. Seja recatado. Não use seu cargo para obter vantagens particulares, mínimas que sejam. Dispense regalias. Abra mão do motorista e use táxi. Viaje em aviões de carreira. Valorize e economize o dinheiro que os cidadãos são obrigados a lhe repassar para que exerça a sua atividade.
4. Desista do acordão. A democracia brasileira tornou-se complexa no melhor sentido da palavra. Oligarquias perderam a capacidade de ditar o rumo dos acontecimentos. Faça um pacto com a lei e com as melhores práticas de conduta. Só fale em particular o que pode dizer em público.
5. Priorize os mais pobres. Renuncie aos seus privilégios, combata os alheios e lute para que o dinheiro público beneficie primeiro e com eficácia quem mais precisa.
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