‘Ela sugeriu levar dinheiro para Cingapura’
‘A minha garantia (de receber) era Lula’
Graça foi criticada porque ‘fechou torneira’
Íntimos dos ex-presidentes Lula e Dilma e responsáveis por suas campanhas em 2006, 2010 e 2014, João Santana e Mônica Moura complicaram mais a situação dos petistas com depoimentos explosivos à Lava-Jato. Mônica contou que foi orientada por Dilma a transferir da Suíça para Cingapura dinheiro de caixa dois da Odebrecht — o que, para especialistas, é crime de obstrução de Justiça. Também disse que a petista avisou que o casal seria preso. Perguntada como sabia que iria receber, a delatora disse que “a garantia era Lula”. Mônica relatou até como pagou cerca de R$ 40 mil para o cabeleireiro de Dilma mesmo depois da eleição. Os ex-presidentes negaram as acusações dos marqueteiros, que comprometem também os ex-ministros Palocci e José Eduardo Cardozo.
A desconstrução de Dilma
Petista mandou transferir conta para Cingapura e alertou sobre prisão, dizem Mônica e Santana
Eduardo Bresciani e Carolina Brígido | O Globo
BRASÍLIA - Os vídeos da delação premiada de João Santana e Mônica Moura expõem detalhes da conduta da ex-presidente Dilma Rousseff e demonstram o conhecimento dela sobre pagamentos irregulares em sua campanha e a preocupação de que tudo viesse à tona na Operação Lava-Jato. De acordo com os relatos, Dilma sugeriu ao casal transferir uma conta no exterior da Suíça para Cingapura — o que, segundo especialistas, configura crime de obstrução à Justiça —, avisou sobre sua iminente prisão e tratou diretamente de caixa dois, prometendo até pagar antecipadamente em 2014.
Mônica contou que eram recorrentes os pedidos para mudar a conta do casal da Suíça para outro país. Era por esse meio que eles recebiam os pagamentos ilegais da Odebrecht. A publicitária disse que não faria isso de jeito nenhum, por não considerar que fazia algo errado. Em 2015, a sugestão de Dilma foi para transferir tudo para o país asiático.
— Ela sugeriu uma vez que a gente mudasse para Cingapura, que ela ouviu falar que era um lugar muito seguro, que a Suíça já estava muito (visada) — afirmou a empresária.
A delatora contou ainda que o casal foi avisado por telefone pela própria ex-presidente sobre os mandados de prisão contra eles na Lava-Jato. — Recebemos um e-mail dela de que precisava de um telefone seguro para falar comigo ou com o João, que ela tinha um telefone seguro no Alvorada. Estávamos na República Dominicana, era seguro o fixo da Dominicana. O João falou com ela nesse telefone na noite do dia 21 de fevereiro, ou do dia 20. E fomos avisados que foi visto um mandado de prisão assinado contra a gente. Não fizemos nada, ficamos esperando. No dia 22 estourou a operação. Estávamos esperando — diz Mônica.
— A presidente ligou para vocês? — questiona uma investigadora.
— A presidente liga para a gente, fala com o João. Fala pessoalmente — afirmou a delatora.
Mônica conta detalhes sobre como foi a criação de contas de e-mails secretos para que o casal pudesse ser avisado sobre o avanço das negociações. Ela afirma que o nome “Iolanda” usado no primeiro e-mail foi sugerido por Dilma como referência à mulher do general Costa e Silva, presidente na ditadura militar. Os dois delatores relatam que, dias antes da prisão, a presidente mandou um e-mail cifrado para alertar sobre o avanço da investigação. O email foi registrado em cartório por advogados, quando o casal estava preso, no ano passado.
Santana disse que, em maio de 2014, almoçou com Dilma no Alvorada e que ela teria prometido que os pagamentos clandestinos da campanha à reeleição seriam feitos antecipadamente.
O casal contou ter demorado a receber recursos da campanha de 2010 e teria ficado com um débito de R$ 25 milhões em caixa 2 que não foi pago devido ao avanço da Lava-Jato.
Mônica relatou gastos de R$ 170 mil em “favores” para Dilma. O casal bancou uma assessora pessoal (R$ 4 mil mensais) e o cabeleireiro Celso Kamura.
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