Investigados pela Lava Jato almejam reeleição em 2018
Camila Mattoso, Ranier Bragon | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Deputados e senadores alvos da Lava Jato dizem duvidar que sofrerão processo de cassação e planejam continuar na vida pública.
A Folha procurou, ao longo da última semana, os 84 congressistas investigados na operação com base em pedidos feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nas duas listas que encaminhou ao Supremo Tribunal Federal –em março de 2015 e em março deste ano.
"Estou há dois anos e dois meses esperando meu processo ser arquivado. O cara [o doleiro Alberto Youssef] diz que me deu [propina], eu já provei que não deu. Fui 24 vezes na Procuradoria, estive oito vezes com Janot e não consigo tirar meu nome desse negócio", reclama Luiz Carlos Heinze (PP-RS).
"Nem que a vaca tussa, medo nenhum [de processo de cassação]. Primeiro, não cometi crime. Segundo, quem não deve não teme. Se o apelido do Lula na Odebrecht era 'amigo' e o meu era 'inimigo', isso já é autoexplicativo", diz Onyx Lorenzoni (DEM-RS), investigado porque aparece na delação da Odebrecht como destinatário de R$ 175 mil de caixa dois em 2006.
Ex-presidente do Senado e tendo escapado de processos de cassação na década passada em decorrência da acusação de que foi beneficiado com dinheiro da empreiteira Mendes Júnior, Renan Calheiros (AL) também minimiza o risco de enfrentar novamente o Conselho de Ética.
"Eu estou sendo investigado pela interpretação, pelo 'ouvi dizer'. Há evidente falta de provas", afirmou o alvo de 17 inquéritos na Lava Jato.
Alguns parlamentares reagiram em tom ríspido: "É descabida [a pergunta], estamos em um fase de inquérito, que sequer se transformou em denúncia. Essa pergunta não tem fundamento nenhum", disse o senador Eduardo Braga (PMDB-AM).
Ao todo, 54 deputados e senadores disseram não acreditar que serão alvos de processo de cassação. Outros 30 não quiseram se manifestar.
A Folha não ouviu políticos que figuraram nas listas de Janot, mas cujos casos foram arquivados ou estão ainda em análise, além de outros que passaram a ser investigados entre os dois pedidos de Janot. Para haver processo de cassação é preciso haver representação apresentada por partido ou pela Mesa Diretora. A análise é feita pelo Conselho de Ética e segue para o plenário, que dá a palavra final.
Apenas três dos que responderam disseram que não irão mais concorrer a mandatos eletivos –mas nenhum citou problemas na Justiça ou a Lava Jato como explicação.
"Estou no sétimo mandato, um de prefeito, tenho 75 anos, e já avisei aos meus eleitores em 2014 que não iria me candidatar mais", disse Nelson Meurer (PP-PR). "Não tem motivo. O fato é que com seis mandatos já cumpri minha missão", afirma Dilceu Sperafico (PP-PR), 69. "Oito mandatos! Não está bom, não? É a minha aposentadoria", disse, aos risos, Roberto Balestra (PP-GO), 72.
Dos que responderam as perguntas da Folha, 50 dizem que pretendem se manter na vida pública, a maioria disputando a reeleição.
Entre eles, Edison Lobão (PMDB-MA), 80, no quarto mandato no Senado. O peemedebista é alvo de seis inquéritos da Lava Jato, incluindo um que apura suposta propina para beneficiar a Odebrecht quando era ministro de Minas e Energia, o que ele nega. "Sou o mais antigo, e não o mais velho, desta Casa: 32 anos de mandato. Não vou tentar a reeleição"¦ É evidente que vou me reeleger."
EXCESSOS
Boa parte dos deputados e senadores que responderam as perguntas da reportagem disse ver excessos ou erros no trabalho da Procuradoria-Geral da República e do juiz federal Sergio Moro.
Responsável pelos julgamentos da Lava Jato no Paraná, o magistrado não trata, porém, dos casos relativos aos congressistas, que têm foro privilegiado no STF.
A Procuradoria é a responsável por analisar as delações, pedir a abertura de investigação ou o arquivamento do caso de deputados e senadores. Em uma etapa posterior, ela oferece denúncia contra o investigado ou solicita o arquivamento.
Dos procurados pela Folha, 24 criticam a atuação do órgão chefiado por Rodrigo Janot, e 24 que dizem não ver excessos. Trinta e seis não quiseram se manifestar.
No caso de Moro, houve um número maior de congressistas que preferiu não responder a pergunta –46. Dos que responderam, 21 afirmam que há abuso na condução do magistrado, principalmente no tempo de prisão de alguns dos alvos da operação –para 17, atuação do juiz é correta.
Algumas das principais críticas ao juiz e ao Ministério Público partem do PT.
"Ele já virou estrela. Convoca a torcida para ir ou para não ir [ao depoimento de Lula]. Tem posição política direcionada. Começou com o PT, aí não conseguiu frear e agora é contra todos os políticos, contra a política e, consequentemente, contra a democracia. Não tem nada a ver com combate a corrupção. Virou instrumento de disputa de poder", diz o senador petista Paulo Rocha (PA).
Há reclamações fora do PT: "A própria rapidez com que o Ministério Público denuncia as pessoas faz com que elas sejam punidas antes de serem condenadas. Acho isso uma ditadura", disse Lazaro Botelho (PP-TO).
Entre os que dizem ver atuação correta do Ministério Público e de Moro está Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo de Michel Temer no Senado. Em conversa gravada em março de 2016, Jucá sugeriu ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma "mudança" no governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria" representada pela Lava Jato.
"Não se julga a história enquanto ela está acontecendo. A Lava Jato mudou a política no Brasil. É um paradigma que fez a política caminhar para algo melhor."
Nenhum comentário:
Postar um comentário