Antes de ter as atividades suspensas, entidade já sofria com efeitos negativos da operação; órgão se concentra em defender petista
Gilberto Amendola | O Estado de S.Paulo
Com as atividades suspensas na semana passada por decisão judicial, o Instituto Lula já sofria com os efeitos negativos provocados pelas investigações da Operação Lava Jato na imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre as ações que estavam em andamento e foram suspensas destacam-se a construção do Memorial da Democracia e uma possível parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates, do fundador da Microsoft, Bill Gates.
Nos últimos meses, o instituto se concentrou em responder a acusações e fazer assessoria de imprensa para o ex-presidente. Mas nem sempre foi assim. Desde sua fundação, em 2011 (antes chamava-se Instituto Cidadania), promoveu encontro com chefes de Estado, realizou debates e fóruns. Chegou a ter 30 funcionários. Hoje, tem cerca de 20.
Em fevereiro de 2013, o instituto anunciou o projeto de construir o Memorial da Democracia: “Será um museu aberto a toda a população, com um formato de apresentação multimídia e interativo. Mostrará a história da luta pela democracia em nosso País. Será construído e mantido pelo Instituto Lula, em terreno cedido pela Prefeitura Municipal de São Paulo nas proximidades da Estação da Luz, seguindo desenho institucional a ser definido entre poder público e a entidade responsável pela iniciativa”.
A construção do museu no terreno público foi barrada pela Justiça antes mesmo de a Lava Jato ser deflagrada, mas, ainda antes do fim da batalha judicial, em setembro de 2015 o Instituto Lula abandonou o plano inicial e decidiu lançar o museu em formato apenas virtual.
Outro projeto que, segundo fontes do instituto, foi afetado pela operação, era o de firmar uma parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates.
No dia 12 de dezembro de 2014, o site do Instituto Lula registrou a visita de Neil Watkins, diretor da entidade do fundador da Microsoft. Watkins se reuniu com Celso Marcondes, diretor do instituto.
“Neil Watkins e Celso Marcondes conversaram sobre os desafios no combate à fome e à pobreza na África, tema de interesse de ambas as instituições, e compartilharam a disposição de avançar em conversas sobre parcerias futuras”, relata notícia produzida pelo próprio instituto. O avanço da Lava Jato, porém, interrompeu as conversas entre as entidades, conforme pessoas que participaram das tratativas.
Entre as suspeitas contra o instituto estão o recebimento de R$ 3 milhões da empreiteira Camargo Corrêa. Além disso, em agosto de 2016, a Receita Federal pediu esclarecimentos por suposto “desvios de finalidade”. Na ocasião, a análise fiscal identificou gastos que o instituto não poderia ter realizado, como despesas pessoais do ex-presidente.
Outra suspeita envolvendo o instituto resvalou nas movimentações financeiras da LILS, empresa de palestras de Lula que teria movimentado cerca de R$ 52 milhões. A Polícia Federal apontou uma “confusão operacional entre as entidades”.
Fechamento. A suspensão das atividades do Instituto Lula foi determinada na terça-feira passada, pelo juiz Ricardo Leite, da 10.ª Vara Federal, em Brasília, em ação sobre obstrução de Justiça. Segundo o magistrado, os réus usaram a sede da entidade para tramar contra a Lava Jato. Em nota, o instituto afirmou ser vítima de “perseguição”.
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