Em menos de um mês, quatro ex-aliados de Lula atacaram as principais teses da defesa do petista e comprometeram a ex-presidente Dilma com denúncias de ilegalidades.
Em 24 dias, quatro delatores fragilizam teses de Dilma e Lula
Defesa afirma que ex-aliados falam ‘por obrigação’ de citar ex-presidente
Tiago Dantas | O Globo
-SÃO PAULO- Nos últimos 24 dias, depoimentos de investigados pela Operação Lava-Jato que tinham relações próximas com Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff aprofundaram as denúncias contra os dois ex-presidentes. A situação para os dois petistas pode ficar ainda pior a depender do que o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci resolver contar em delação premiada.
Para os advogados de Lula, esse movimento contra o ex-presidente aconteceu porque, segundo eles, os colaboradores são obrigados a falar o nome do petista em troca de benefícios. Já a defesa de Dilma alega que alguns delatores mentiram na tentativa de reduzir sua pena.
A fila das novas colaborações foi puxada pelo ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que já foi condenado a 26 anos de prisão e tenta reduzir sua pena nas ações em que é réu por meio de um acordo com o Ministério Público Federal (MPF) — a delação ainda não foi homologada pela Justiça. Em depoimento prestado ao juiz Sergio Moro em 20 de abril, o empresário, que era muito próximo de Lula, disse sempre saber que o tríplex do Guarujá, no litoral paulista, estava reservado para o petista e que o dinheiro da reforma do apartamento saiu de um caixa de propina da empreiteira com o PT. Pinheiro ainda relatou um encontro em que o ex-presidente teria lhe pedido para destruir documentos que comprovassem a existência desse caixa.
Em 6 de maio, foi a vez do ex-diretor da Petrobras Renato Duque afirmar ao juiz Moro que entregaria informações que ajudariam a investigação. Condenado a penas que somam 57 anos de prisão, ele tenta o benefício nos processos ainda sem julgamento. Duque disse que, após conversar com o ex-presidente, ficou claro que Lula tinha conhecimento do esquema de propinas na Petrobras e que comandava tudo. Segundo o ex-diretor da estatal, o petista teria lhe dito para não ter contas no exterior e quis saber detalhes de pagamentos ilícitos ligados a contratos de sondas da Petrobras com a Sete Brasil.
Lula negou todas essas afirmações durante o interrogatório do último dia 10. Em nota, a defesa do ex-presidente afirmou que “está muito claro que citar o nome de Lula tornou-se condição obrigatória para que réus e até condenados obtenham os favores na Promotoria”. A defesa entrou com dois pedidos na Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar se os acusados da Lava-Jato estão sendo pressionados a incriminar o petista para conseguir o benefício. Além disso, segundo os advogados, nenhum dos delatores apresentou provas das menções feitas a Lula.
No dia seguinte ao depoimento do ex-presidente, o mundo político foi atingido pela divulgação dos depoimentos dos marqueteiros Mônica Moura e João Santana, casal que privava da intimidade tanto de Lula quanto de Dilma. Responsável pelas corridas presidenciais petistas desde 2006, Santana disse acreditar que os dois sabiam que pagamentos de suas campanhas foram feitos por meio de caixa 2. Afirma também que Lula reclamou que a ex-presidente da Petrobras Graça Foster estava atrasando, de propósito, pagamentos a empreiteiras. Já Mônica afirmou que Dilma a avisou que o casal seria preso dias antes da ordem de prisão. O recado foi passado por meio de uma conta secreta de e-mail que era utilizada apenas pelas duas.
Lula nega as acusações. A defesa de Dilma afirma que Santana e Mônica prestaram “falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores”. Os advogados, que haviam pedido acesso às delações para fazer sua defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), reclamaram da demora na divulgação.
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