- Folha de S. Paulo
"Acho bom todo mundo fazer delação logo. Para acabar com esse sofrimento de uma vez". O desabafo é do ex-ministro Gilberto Carvalho, principal escudeiro de Lula em seus oito anos de governo. Na tarde de sexta-feira, ele parecia abatido com a confirmação de que Antonio Palocci será o próximo a entregar ex-companheiros à Lava Jato.
Um ano depois do impeachment, o PT voltou a viver uma semana de péssimas notícias. Na quarta, Lula teve que se sentar no banco dos réus em Curitiba. Na quinta, ele e Dilma Rousseff foram fritados por seus marqueteiros de campanha. Na sexta, seu ex-ministro da Fazenda deu a partida para mais uma delação.
"Eu confio no Palocci. Duvido que ele vá dizer que o Lula mandou fazer alguma coisa", disse Carvalho. "O Lula nunca quis saber de dinheiro. Ele dizia: 'Tem coisa que eu não quero saber. Eu não quero saber'".
Perguntei por que o ex-presidente se recusaria a conhecer a origem do dinheiro que bancava suas campanhas. "O candidato não pode fazer tudo. É claro que ele espera que ninguém faça bobagem", respondeu.
Que tipo de bobagem? O petista esclareceu que se referia a caixa dois. "É um erro gravíssimo que nós cometemos. Nós seguimos um padrão que condenávamos", disse. Lembrei que o PT já havia confessado o crime no mensalão, mas voltou a praticá-lo nas eleições seguintes. "Foi repetido. Infelizmente", afirmou Carvalho.
O ex-ministro disse que as acusações contra Lula são "ridículas" e que a Lava Jato abusa da prisão preventiva para forçar os réus a delatar. "É uma forma de tortura. Se o cara não confirma a tese dos procuradores, passa a ser visto como inimigo."
Carvalho definiu a delação dos marqueteiros como "uma tragédia". "O João Santana não vai destruir o PT. Mas é claro que isso nos prejudica", reconheceu. "O imperdoável é o cara mentir. Eu não perdoo, mas tenho um grau de compreensão pela tortura que ele sofreu. O que sinto é um misto de tristeza e decepção".
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