Não há dúvida de que o brusco enfraquecimento político do presidente Michel Temer (PMDB), de evolução ora imprevisível, lança dúvidas consideráveis sobre o processo de retomada da economia que mal dá seus primeiros passos.
Dissipou-se a melhora de humor dos mercados que era nítida nas últimas semanas. Dada a incerteza quanto ao andamento da agenda de reformas no Congresso, o setor produtivo tende a postergar projetos de investimento.
Mesmo antes de vir à tona a delação do empresário Joesley Batista, da JBS, a expectativa de crescimento neste ano não passava de 0,5%. Uma taxa tão modesta é, naturalmente, vulnerável a quaisquer solavancos de percurso.
Isso considerado, não há razões para imaginar um desenlace tão traumático quanto alguns dos especulados sob o impacto inicial da crise de governabilidade.
O país vive hoje sob condições econômicas bem mais confortáveis do que as observadas nos estertores do governo Dilma Rousseff (PT), quando aprofundava-se uma das recessões mais longas e agudas da história nacional.
Hoje, a inflação está em queda consistente. Mesmo com a escalada recente das cotações do dólar, resultado da insegurança dos investidores, é improvável que volte a acelerar-se a alta dos preços de mercadorias e serviços. Afinal, o consumo permanece restrito pelo desemprego renitente.
Com isso, o Banco Central pode dar continuidade aos cortes dos juros, que devem encerrar o ano em um dígito -contribuindo, adicionalmente, para minorar as despesas financeiras do governo.
Contabiliza-se forte ingresso de moeda estrangeira, tanto pela via do comércio -as exportações devem superar as importações em mais de US$ 50 bilhões neste ano, montante recorde- quanto pela do investimento. Assim, a desvalorização do câmbio perde fôlego.
As dívidas externas das companhias vêm sendo equacionadas. A Petrobras, maior motivo de preocupação dois anos atrás, conseguiu reduzir sua fragilidade financeira.
A equipe responsável pela gestão da economia mostra-se capaz, coesa e autônoma. Não se veem riscos de mudanças de rumo ao sabor das turbulências de Brasília.
Há, sim, previsível resistência às reformas trabalhista e, especialmente, previdenciária -esta crucial para o ajuste duradouro das finanças públicas e a recuperação mais célere do ânimo de empresários e investidores.
Entretanto as propostas já se encontram em estágio avançado de tramitação legislativa, com textos acordados entre os partidos da coalizão governista. Tal concertação, por defeituosa que seja, pode e deve ser preservada, qualquer que seja o desfecho da crise.
Sem isso, estaremos fadados a uma travessia ainda mais longa, difícil e acidentada até a normalidade econômica e política.
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