A pedido do presidente, Fachin determina perícia na gravação da conversa com Joesley
Peemedebista faz novo pronunciamento, mas não explica diálogo com empresário; ministro do Supremo Tribunal Federal submeterá ao plenário da Corte a decisão de suspender ou não a investigação
Em seu segundo pronunciamento em três dias, o presidente Temer utilizou como defesa o ataque a Joesley Batista, dono da JBS, e tentou desqualificar a gravação da conversa entre os dois, mas não explicou e não negou o diálogo. A nova estratégia é pedir a suspensão do inquérito contra ele no STF, com o argumento de que as gravações foram adulteradas. Peritos divergem sobre suposta edição da fita, mas afirmam que no trecho mais polêmico, sobre anuência a pagamento de mesada a Eduardo Cunha, não há adulteração. Também o trecho em que Joesley fala em cooptar juízes foi confirmado pelo presidente. “Essa gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos”, disse ontem Temer, que deixou vários pontos sem explicação no pronunciamento. Para ele, Joesley praticou o “crime perfeito” e não foi punido. O dono da JBS negou edição da gravação. O ministro Edson Fachin, do STF, pediu perícia na fita, mas vai submeter ao plenário o pedido de suspensão do inquérito.
NO ATAQUE
Temer pede suspensão de inquérito
Presidente chama Joesley de ‘falastrão’ e afirma que áudio de conversa foi ‘adulterado’ e ‘manipulado
Catarina Alencastro | O Globo
BRASÍLIA - O presidente Michel Temer fez ontem seu segundo pronunciamento em três dias e partiu para o ataque. Temer adotou a estratégia de desqualificar o dono da JBS, Joesley Batista, deslegitimar o áudio apresentado por ele e questionar o acordo de delação fechado com o Ministério Público. Afirmando que as gravações foram “adulteradas”, pediu a suspensão do inquérito aberto para investigá-lo no Supremo Tribunal Federal (STF). A estratégia é distinta da implementada dois dias antes, quando afirmou que o inquérito seria o foro onde daria todas as explicações para esclarecer as acusações.
— Essa gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos, incluída no inquérito sem a devida e adequada averiguação, levou muitas pessoas ao engano induzido e trouxe grave crise ao Brasil — afirmou.
O presidente disse, mais uma vez, que ficará no cargo e se apresentou como timoneiro do projeto de resgate do país da crise econômica. Aproveitando a repercussão negativa gerada em vários setores da sociedade com relação ao fato de Joesley estar gozando da liberdade em Nova York, Temer disse que o empresário cometeu o “crime perfeito” e insinuou que o goiano bolou uma trama para ganhar dinheiro com a revelação dos áudios.
— O autor do grampo está livre e solto, passeando pelas ruas de Nova York. O Brasil, que já tinha saído da mais grave crise econômica de sua história, vive agora dias de incerteza. Ele não passou nem um dia na cadeia, não foi preso, não foi julgado, não foi punido, e pelo jeito não será. Cometeu o crime perfeito. Graças a essa gravação fraudulenta e manipulada, especulou contra a moeda nacional. Comprou US$ 1 bilhão porque sabia que isso provocaria o caos no câmbio — acusou.
‘ELE É CONHECIDO FALASTRÃO’
Além de ter lucrado com a compra de dólares, Temer disse que seu acusador também lucrou ao vender ações da JBS antes da revelação da denúncia, pois sabia que elas despencariam após O GLOBO noticiar o escândalo na noite de quartafeira. Naquele dia, O GLOBO publicou em seu site que no âmbito de sua delação premiada, Joesley havia gravado Temer avalizando o silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
O presidente argumenta que não cometeu nenhum dos crimes pelos quais será investigado no Supremo. No inquérito, levanta-se a suspeita de corrupção passiva, obstrução da Justiça e organização criminosa. Com relação à corrupção, Temer argumenta que nenhum pedido feito por Joesley foi atendido. Diz que “não há crime em ouvir reclamações” e que indicou nomes para Joesley na tentativa de se “livrar” do empresário. No entanto, voltou a evitar fazer comentários sobre a propina recebida por seu ex-assessor e deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).
Para Temer, o depoimento do acusador está coalhado de mentiras. Defendendo-se da acusação de obstrução da Justiça, por supostamente não tomar providências após ouvir Joesley dizer que cooptou juízes e procuradores, ele disse não ter acreditado.
— Não acreditei na narrativa do empresário de que teria segurado juízes etc. Ele é um conhecido falastrão exagerado. Aliás, depois, em depoimento, podem conferir, disse que havia inventado essa história, que não era verdadeira. Ou seja, era fanfarronice que ele utilizava naquele momento — atacou.
Enquanto no primeiro pronunciamento, no dia seguinte à eclosão do escândalo, Temer disse que “a investigação pedida pelo Supremo Tribunal Federal será território onde surgirão todas as explicações. E no Supremo, demonstrarei não ter nenhum envolvimento com esses fatos”, ontem o presidente disse que, como os áudios e os depoimentos têm “incoerências” e manipulações, o processo está comprometido. Por isso, pediu que o inquérito seja suspenso até que tudo seja averiguado. O presidente também aproveitou para lançar críticas veladas à condução do Ministério Público no acordo de delação premiada de Joesley.
Temer diz que seu governo “tem rumo”. Com um pequeno grupo de aliados, como os deputados Darcísio Perondi (PMDB-RS), Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) e Carlos Marun (PMDB-MS) e o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, Temer insinuou que o empresário faz parte de um grupo que lucrou muito com o governo Dilma Rousseff e quer tirá-lo do poder para voltar a ganhar dinheiro.
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