- O Estado de S. Paulo
Os irmãos Batista foram para lá de generosos: financiaram de tucanos a petistas
Michel Temer vai cair? É provável que sim, dada a rápida sucessão de acontecimentos e a deterioração de suas condições políticas desde a última quarta-feira. Ele merece cair? Certamente, dado seu alto grau de comprometimento com uma clara tentativa de obstrução à Lava Jato e com um esquema criminoso de arrecadação de propina que atuava livremente, com seu conhecimento e participação ativa.
Dito isso, e muito mais haveria a dizer a respeito e haverá a dizer a posteriori, uma vez que o segundo afastamento de um presidente em um ano não é algo que não cause traumas profundos a qualquer país, é preciso analisar o fato desencadeador dessa provável queda: a delação da JBS.
Consta que Joesley Batista procurou o Ministério Público Federal quase um mês depois do 7 de março em que gravou sua conversa com Temer no Palácio do Jaburu. Levava na bagagem, ainda, outras gravações feitas, segundo o MPF, por iniciativa própria. Queria, então, negociar uma delação.
Diante do material, a equipe de Rodrigo Janot ofereceu a Joesley e ao grupo um acordo até então inédito na Lava Jato, que incluiria a chamada ação controlada, em que autoridades monitoram o cometimento de crimes, mas adiam a atuação para colher provas mais robustas.
Foram sete as ações controladas realizadas no bojo do acordo, que resultaram no flagrante de entrega de dinheiro vivo a aliados de Temer e do senador Aécio Neves, outro protagonista do capítulo JBS da Lava Jato. Depois de ajudar a compor um acervo probatório nunca antes visto na operação, o grupo JBS negociou condições para seus delatores também sem precedentes: eles ganharam imunidade em outras investigações – sobre as quais também forneceram informações –, poderão continuar no comando das empresas, não serão presos, não ficarão com tornozeleira eletrônica, poderão morar no exterior e seus acionistas pagarão um total de multas pessoais de R$ 225 milhões.
As cláusulas vantajosas em comparação com as impostas a outros delatores suscitaram um debate e certa revolta no país. Trata-se, afinal, do grupo que ascendeu à condição de gigante mundial da proteína animal graças à política dos “campeões nacionais” da era Lula – que nada mais era do que um assalto deliberado ao BNDES e a outros órgãos de Estado para beneficiar empresários “amigos" mediante o pagamento de vultosa propina para o ex-presidente e o PT.
Assim agraciados, os irmãos Batista foram para lá de generosos: financiaram de tucanos a petistas, passando por peemedebistas, com fartura digna de churrascaria rodízio. Aécio, Temer, Eduardo Cunha e seus subescalões se fartaram de comer no banquete da corrupção patrocinado pelo lulopetismo.
Se obtiveram vantagens e acesso ao cofre ilimitado para criar seu império, os irmãos Batista mantêm a escrita e dão uma banana ao Brasil ao assistir de camarote, dos EUA, à explosão da política brasileira que ajudam a promover. A mesma que os fez chegar a Nova York. Um paradoxo brasileiro.
A benevolência com Joesley e companhia se explica pelo quê? Para entender a negociação, é preciso analisar o momento pelo qual passava a Lava Jato. As próprias revelações da última semana comprovam que estava em curso um entendimento geral entre governo, Legislativo, partidos e, até, setores do Judiciário para limitar as investigações. Joesley ofereceu a Janot uma carta que a Lava Jato não tinha na manga, capaz não só de sustar a operação-abafa – e, assim, evitar que a operação tivesse destino semelhante ao da Mãos Limpas, da Itália, lograda pela rearticulação do sistema político – como de derrubar o segundo governo em um ano.
Em troca, o procurador-geral ofereceu à JBS o segundo título de campeão nacional. Campeões nacionais da delação.
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