Poucos se dão conta de que há um limite mínimo, fixado em regulamento, para a inflação no país. De mera curiosidade, o piso tornou-se objeto de atenção das autoridades, dado o risco de que seja descumprido pela primeira vez.
São 3% ao ano, correspondentes a um desvio de 1,5 ponto percentual em relação à meta de 4,5% –e foi exatamente essa a taxa acumulada no período de 12 meses encerrado em junho (quando o IPCA mostrou deflação mensal).
Decerto que uma taxa civilizada para a alta do custo de vida constitui motivo de comemoração, não de alarme. No caso brasileiro, entretanto, a queda rápida e até surpreendente da inflação evidencia os efeitos do ciclo recessivo brutal, que assolou o país por três anos, e da lentidão em superá-lo.
A despeito de alguns motivos pontuais para a contenção dos preços, como a excepcional safra agrícola, o fenômeno se mostra disseminado na economia –em consequência da prostração do consumo e dos investimentos.
Nesse quadro, é de esperar que o Banco Central corte rapidamente seus juros. De fato, desde outubro do ano passado a taxa Selic foi reduzida em quatro pontos percentuais, para os atuais 10,25% ao ano. Espera-se uma queda até algo em torno de 8% até dezembro.
Ainda assim, o BC parece mais passageiro que condutor do processo. Limita-se a reagir à trajetória da inflação, sem o foco necessário em debelar um quadro de endividamento e estagnação que aflige famílias e empresas.
Não se vê razão plausível para que os juros reais (que descontam o IPCA esperado) mantenham-se acima de 5% ao ano numa economia que crescerá nada em 2017 .
A política monetária, é certo, dá peso significativo às incertezas do cenário nacional, em especial aquelas relacionadas ao controle das contas públicas e o andamento das reformas. Por natural que seja algum conservadorismo nessa seara, há largo espaço para uma queda mais célere da Selic.
Quanto mais tardar a retomada do crescimento, maior será o risco para empresas ainda viáveis, mas que não conseguem operar com normalidade num contexto de escassez de financiamento.
Nas recentes crises financeiras que abalaram países ricos, a volta do crédito dependeu da restauração de bancos quase insolventes. Aqui, ao contrário, os bancos permanecem fortes e lucrativos. É o setor produtivo que precisa de alívio.
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