- O Estado de S.Paulo
A energia solar avança no Brasil, mas já não com o mesmo fôlego. Nos últimos 12 meses, a instalação de micro e minigeradores (painéis em casas, condomínios e hospitais, por exemplo) de energia solar fotovoltaica cresceu 200%.
Assim medido, é número que pode impressionar. Mas não deve enganar ninguém, porque provém de base de comparação muito baixa. Até junho do ano passado, havia 4 mil conexões no Brasil. Hoje são 12 mil, ainda uma insignificância diante do potencial.
Vários obstáculos seguem dificultando o avanço da novidade no País e convém examiná-los melhor. Nos últimos dez anos, os custos de instalação caíram, no mundo, em cerca de 80%. O impacto no Brasil é mais baixo em consequência da elevada carga tributária sobre componentes, o que tira competitividade desse tipo de geração por aqui. Por exemplo: o inversor solar (fotovoltaico), que é um conversor de corrente elétrica, chega a custar até 50% mais no Brasil pela incidência de impostos, como aponta Rodrigo Sauaia, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
O segundo entrave é a escassez de crédito. Os bancos privados, em geral, limitam-se a financiar iniciativas de pessoas físicas, mas a juros altos demais. Entre os bancos públicos, só o Banco do Brasil oferece linha de crédito específica mas, ainda assim, apenas para a área rural. Não dá para deixar de fora o BNDES, embora este não atenda o produtor/consumidor, mas apenas o fornecedor de componentes. Em junho deste ano, o banco ampliou a linha de crédito à indústria de energia solar fotovoltaica, providência que ainda não teve tempo para produzir resultados.
O terceiro obstáculo, não menos importante, é a falta de uma cultura adequada para encarar a mudança. Ainda subexiste a ideia de que os custos são muito altos e a de que o retorno do investimento é demorado demais.
A instalação de painéis fotovoltaicos para o consumo de uma residência de quatro pessoas está orçada hoje em torno de R$ 12 mil, investimento que se paga em cerca de cinco anos, prazo já bem inferior ao que prevalecia há dez anos.
A falta de uma política de esclarecimento perpetua a impressão de que a energia solar continua cara demais também aos consumidores de maior porte.
Ainda mais grave é o fato de que os formuladores de políticas públicas continuam com a cabeça no passado. É o que o professor da Universidade de Brasília (UnB) Rafael Amaral Shayani quer dizer quando observa que “o pensamento energético brasileiro não sai das hidrelétricas e das termoelétricas”. A energia solar não entra em leilões com contratos de oferta de longo prazo desde novembro de 2015, embora o Ministério de Minas e Energia tenha indicado que, até o fim deste ano, alguma novidade possa acontecer.
Na contramão, a recessão que decorre do ajuste fiscal do governo também diminuiu a demanda por reserva de energia. Sem novos leilões, os investimentos públicos em energia solar também podem diminuir.
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