- Folha de S. Paulo
Estão tirando dos trabalhadores para dar aos patrões. É assim que muitos grupos de esquerda descrevem a recém-aprovada reforma trabalhista. Quanto há de verdade aí? Pouco, eu diria.
O problema de certas facções menos sofisticadas da esquerda é que elas veem a economia como um jogo de soma zero, no qual o lucro de um é o prejuízo do outro. Se o dono do capital ganha, é porque está tirando recursos do trabalhador. O sistema, porém, é um pouco mais complexo.
A economia é um jogo de soma positiva. A riqueza não é uma quantidade finita ditada pela natureza, pela qual diferentes agentes precisam digladiar-se, mas uma criação social. Se os arranjos produtivos são bons, mais riqueza é gerada. A maior parte da prosperidade material experimentada pela humanidade nos últimos dois séculos tem origem não em revoluções políticas, mas em ganhos de produtividade decorrentes de avanços tecnológicos e organizacionais.
Interessa tanto a patrões como a empregados e também à sociedade em geral que as relações de trabalho busquem a maior eficiência produtiva possível, pois assim mais riqueza será gerada. A definição de qual quinhão vai para quem –o velho conflito distributivo, que os marxistas chamam de luta de classes– não tem a legislação trabalhista como palco único. Há vários outros canais de distribuição de renda, com destaque para a tributação e os serviços universais proporcionados pelo Estado.
É mais ou menos consensual entre economistas que a rigidez da CLT hoje conspira contra os melhores arranjos produtivos. Uma flexibilização das regras tende a tornar as empresas mais eficientes.
Se a esquerda quer reclamar de patrões e injustiças, deveria escolher alvos melhores, como os imorais juros subsidiados oferecidos via BNDES a empresários amigos do rei, anomalias tributárias como a isenção de impostos na distribuição de dividendos e até mesmo o sistema S.
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