- O Estado de S.Paulo
Desejo de não ser visto para não ser incomodado parece ser o que resta a Michel Temer no que lhe resta de seu mandato-tampão
O título desta coluna é também o de um best-seller norte-americano para o público jovem, que virou um filme muito bom. Narra as agruras de um menino de 17 anos para sobreviver sem ser incomodado no ambiente hostil do ensino médio. O desejo de não ser visto para não ser incomodado e assim ir passando os dias parece ser o que resta a Michel Temer no que lhe resta de seu mandato-tampão.
Um dos principais discursos com os quais Temer se apresentou ao mercado, à sociedade e ao Congresso como alternativa para substituir Dilma Rousseff foi o da austeridade fiscal, que permitiria ao País superar a crise econômica prolongada em que o PT o enfiou com a malfadada nova matriz econômica e retomar alguma previsibilidade.
A tal Ponte para o Futuro pregava esses princípios. A composição da equipe econômica teve esse viés. A apresentação das reformas logo de cara era coerente com esse propósito, a definição de um teto de gastos públicos foi uma sinalização de que isso ocorreria.
E um dos compromissos da nova receita e da tal ponte era: promoveremos esse reequilíbrio fiscal sem recorrer à saída do aumento da carga tributária. O documento do PMDB gasta parágrafos e mais parágrafos para condenar esse recurso, e Temer garganteou em vários discursos logo que assumiu a faixa e a cadeira que tinha tirado do horizonte a volta da CPMF.
Esse discurso ruiu na última semana com a decisão de elevar a alíquota de PIS/Cofins dos combustíveis para fechar o rombo na meta fiscal do ano, que, por sua vez, já é de um mega rombo de R$ 139 bilhões. Muita gente acha que será necessário tapar mais buracos no caixa. Ou ceder a mais um dilmismo e descumprir a meta pura e simplesmente.
O fracasso também no propósito de não elevar a carga tributária se soma à dificuldade até aqui em aprovar a reforma da Previdência, que seria essencial principalmente após a fixação de um teto que agora ameaça sufocar o Orçamento do ano que vem, ao insucesso de promover a queda do desemprego e aos passos de tartaruga na recuperação da economia.
Outras medidas para consertar as bobagens de Dilma, como a que acaba com a indiscriminada e ineficaz desoneração da folha de pagamentos, patinam no Congresso pelo simples fato de que o governo desistiu de qualquer pauta que não seja a salvação do pescoço do presidente, denunciado por corrupção passiva.
Assim Temer, já havia igualado Dilma em impopularidade e escândalos, agora mostra dificuldade até em se diferenciar dela na condução da economia. O que lhe restará de legado? Pelo que será lembrado? Difícil responder.
Em minha primeira coluna neste jornal dizia que Temer tinha as opções de aproximar sua Presidência de Itamar Franco, que fez o Plano Real e conseguiu eleger o sucessor, ou de José Sarney, que deixou de herança a inflação galopante e rejeição nas alturas e não influiu na própria sucessão.
Mas Temer inovou. Acrescentou uma inédita denúncia por um crime cometido no exercício do mandato, algo que nem Sarney ostenta no currículo. Daí porque a comparação deixou de fazer sentido.
Se conseguir concluir seu mandato, a única agenda que lhe resta nesse um ano e pouco que tem pela frente, terá sido à base dos piores vícios do correligionário Sarney: fisiologismo na veia. E não por gozar de apoio popular ou da confiança do empresariado em sua capacidade de tirar o País da crise.
E uma vez salvo pela Câmara, Temer será um presidente fantasma, um ectoplasma vagando pelo Planalto, desejando ser invisível para o Ministério Público e para a população que o rejeita, e marcando os dias da folhinha com a ansiedade de alguém que sabe que não deixará saudades quando passar a faixa nem merecerá nos e-books de história mais que um capítulo breve.
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