- Valor Econômico
Atuais lideranças agem por instinto de autopreservação
Oposição e situação, ambas formadas por representantes da política tradicional, encerraram o semestre legislativo fazendo um grande favor a quem prepara o terreno para disputar as eleições do ano que vem aspirando representar o novo. Agiram movidas por um compreensível instinto de autopreservação, mas acabaram por ajudar a desmoralizar as instituições da República e a degradar ainda mais a imagem dos partidos.
Algumas dessas ações se deram em articulação com advogados de investigados pela Operação Lava-Jato. Noutra esfera, em vez de negociar o possível em votações que interessam diretamente ao seu eleitorado-alvo, siglas de oposição insistem em partir para o embate e interromper canais de interlocução com adversários. Prendem-se ainda à batalha pela forma na qual o processo de impeachment será registrado na história, tema que ainda mobiliza militantes país afora, em vez de trabalhar pela formação de alianças capazes de alterar os projetos em tramitação no Legislativo.
Uma senha foi dada no fim de junho, no mesmo dia em que o presidente Michel Temer realizava um pronunciamento para se defender da delação do empresário Joesley Batista e partir para o ataque contra a Procuradoria-Geral da República. Num Parlamento em que raras lideranças ainda silenciam o plenário quando começam a discursar, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) tomou a palavra e recebeu total atenção dos colegas. Argumentou que precedentes estavam sendo criados quando o Senado aceitou a prisão de Delcídio do Amaral sem flagrante e nada fez contra o afastamento de Aécio Neves (PSDB-MG). Numa referência a investigadores e juízes, destacou que quem não recebe o voto popular está ditando os rumos da política nacional, ao tentar sujar a ficha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Jader apelou aos presentes e pregou união. "Todos nós estamos nesta luta. Que o PSDB e o PMDB não festejem uma possível condenação do presidente Lula! Será uma violência inominável de quem não tem um voto popular querer retirar da vida pública um homem com a carreira e com o prestígio do ex-presidente da República. Não, nós não podemos festejar isso. Eu não posso festejar que se liquide, sem o direito de defesa, o meu companheiro de Senado Aécio Neves. De jeito nenhum", disse. E vaticinou: "Diante de tanto precedente, nós ainda vamos nos fragilizar muito mais".
De fato, apesar do espanto causado pelo conteúdo dos diálogos gravados por Joesley Batista com Aécio Neves, sobretudo entre os que votaram nele em 2014, não foram vistos líderes de expressão de outras siglas criticando o senador mineiro. Tampouco registrou-se, no meio político, um número relevante de celebrações pela condenação de Lula.
Uma exceção foi o prefeito de São Paulo, João Doria. Eleito com o discurso segundo o qual não era um político, mas sim um gestor, ele vem defendendo a substituição definitiva de Aécio na presidência do PSDB. E foi o mais eloquente tucano a festejar a condenação do ex-presidente, numa estratégia para consolidar-se como um anti-Lula.
O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), oficial da reserva do Exército e potencial escolha de eleitores conservadores que estejam em busca de um perfil alternativo de candidato nas próximas eleições, não deixou de criticar Lula e Temer. E a ex-senadora Marina Silva, que já participou do tradicional jogo eleitoral apresentando-se como expoente de uma suposta nova forma de fazer política, também aproveitou a deixa.
Marina demonstrou estar pronta para entrar numa nova corrida presidencial, criticou o governo e elogiou a equipe da Lava-Jato pelos resultados obtidos no processo do ex-presidente Lula. Isso sem falar em seus recentes acenos ao ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, outro frequente crítico da classe política tradicional, para eventual composição no pleito de 2018.
O ressurgimento de Marina Silva logo após a condenação de Lula foi alvo de críticas no PT e outras alas da esquerda, justamente os segmentos que enalteceram a ocupação da Mesa do Senado feita por senadoras que queriam impedir a votação da reforma trabalhista. Mesma tática utilizada por estudantes secundaristas, sindicatos e movimentos sociais, a qual não garantiu aos partidos de oposição resultados efetivos além da promoção de um episódio capaz de conectar pré-candidatas à militância.
O espírito de corpo dos parlamentares foi evocado novamente dias depois. A defesa do presidente alertou os deputados da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara sobre o avanço de uma cultura punitiva no país que, alcançando Temer e Lula, pode também atingir outras lideranças brasileiras. A mensagem tinha como destinatário um público preocupado com os desdobramentos da Lava-Jato e decidido a manter seus instrumentos de perpetuação no poder por meio da reforma política em debate, a praticamente um ano do início das campanhas eleitorais. Mesmo que isso prejudique ainda mais a imagem do Congresso.
Nas discussões sobre a denúncia contra Temer e as reformas econômicas, o mantra do "nós contra eles" que dita a luta partidária há anos continua a dar o tom. No ano que vem, para preocupação das atuais lideranças, a crescente insatisfação da população pode fazer com que esse slogan se transforme na frase a sintetizar uma disputa entre a política clássica e a antipolítica.
PMDB x Zveiter
Lideranças do PMDB não escondem a possibilidade de estender a estratégia que garantiu a vitória do governo na CCJ da Câmara. Como houve sinais de que o presidente do colegiado, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), poderia indicar novamente o deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) para relatar as próximas denúncias contra Temer, o próprio parlamentar fluminense corre risco de ser substituído na comissão. Partidos de oposição, no entanto, já anteveem a jogada e vislumbram um contra-ataque: não descartam ceder temporariamente uma de suas vagas a Zveiter, se o lance for ensaiado com Pacheco.
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