Presidente tenta neutralizar ‘centrão’, que cobiça cargos no governo
Leticia Fernandes, O Globo
-BRASÍLIA- O presidente Michel Temer lançou uma ofensiva para tentar reduzir a tensão em alas do PSDB, hoje o mais incômodo aliado do governo, e ampliar a gordura de votos para barrar a denúncia contra ele em plenário. Ao longo do fim de semana, o presidente ligou para ministros tucanos para abafar o desconforto provocado por especulações de que poderia tirá-los do cargo e, ontem, recebeu no Planalto o ministro das Cidades, Bruno Araújo, que vinha sinalizando a possibilidade de pedir para deixar o governo. O discurso feito aos tucanos foi de pacificação, e os ministros foram avisados de que, ao menos antes de votada a denúncia em plenário, não há previsão de alterações no primeiro escalão.
— Temer continua tendo os ministros do PSDB na mais alta conta — minimizou ontem um interlocutor.
Apesar de o PSDB não ter entregue os votos para barrar a denúncia na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara — apenas dois dos cinco deputados se posicionaram a favor do presidente —, Temer resolveu focar na “linha de convergência” com os partidos da base.
Governistas lembram que, apesar de boa parte dos deputados do PSDB se posicionar contra Temer na votação da denúncia, o cenário deve ser bem diferente quando as reformas tributária e da Previdência forem pautadas no plenário, pontos em que o governo vai se concentrar durante o recesso parlamentar. O PSDB é o principal defensor da agenda de reformas encampada pelo presidente, e o governo tem o apoio de governadores, prefeitos e senadores tucanos para dar prosseguimento a essa agenda.
Já os partidos do chamado “centrão”, que apoiou Temer na CCJ, são vistos com certa desconfiança no governo, já que seus deputados são menos comprometidos com as reformas. O Planalto já foi avisado, também, de que haverá defecções nessas legendas na hora de votar a denúncia em plenário. Por conta disso, a especulação sobre a troca de ministros tucanos é tratada no governo como “intriga do centrão”.
— O governo está trabalhando com as convergências. Hoje há compromisso do PSDB com as reformas, e, se houver votações em plenário, tanto de MPs e projetos como a denúncia, temos tranquilidade que contamos com votos inclusive do PSDB — disse um assessor do Planalto.
Alberto Goldman, um dos vice-presidentes do PSDB, afirmou que não se preocupa com as investidas do centrão:
— Não é problema do PSDB. Temer faça o que quiser. Nada muda — afirmou.
O caso mais emblemático no PSDB é o do ministro das Cidades, Bruno Araújo (PE), o único dos ministros tucanos com mandato parlamentar a não fazer uma defesa pública do governo desde que foi divulgada a delação da JBS. Ao contrário, chegou a demonstrar disposição para deixar o cargo e defendeu o desembarque do PSDB do governo. Apesar disso, a relação com Temer, segundo interlocutores disseram ao GLOBO, está “totalmente pacificada”.
O orçamento robusto da pasta que Bruno ocupa desperta o interesse dos partidos do centrão, responsáveis, em grande medida, pela vitória de Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Essas legendas pressionam por mais espaços no governo.
— Os outros partidos aliados gostariam de ter mais espaços no governo, o Ministério das Cidades é importante, mas hoje está nas mãos do Bruno e não está ofertado a quem quer que seja — disse um interlocutor do presidente.
Ontem, para sepultar as especulações de uma eventual troca de comando da pasta, Temer recebeu Bruno Araújo no Palácio. O assunto oficial foi o lançamento do programa Cartão Reforma. Num gesto de aproximação, o presidente deve comparecer, ao lado do ministro, ao lançamento do programa amanhã, em Caruaru, em Pernambuco, estado natal de Araújo. O programa, que pretende atender ao menos 85 mil famílias este ano, dá a famílias com renda menor de R$ 2.811 a possibilidade de receber até R$ 9 mil para compra de materiais de construção.
DEFESA DE VERBAS LIBERADAS
Ministros estão otimistas com a possibilidade de o PSDB entregar mais votos para barrar a denúncia contra Temer no plenário da Câmara. Segundo levantamento de governistas, hoje já haveria mais votos pró-Temer na bancada do que contrários. Mesmo assim, segundo enquete do GLOBO, Temer perdeu ontem mais dois votos de deputados tucanos, que passaram a ficar contra ele.
Após O GLOBO publicar no domingo que o governo liberou R$ 15,3 bilhões em programas e verbas para estados e municípios, como forma de aceno a parlamentares, o Planalto soltou nota para defender a medida. “A liberação de recursos para municípios trata-se de procedimento absolutamente normal. Tais recursos serão utilizados obedecendo a critérios como seleção pública e avaliação de risco de crédito. (...) Quanto às emendas parlamentares mencionadas, esclarece que trata-se de um procedimento obrigatório previsto na Constituição”. (Colaborou Maria Lima)
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