- Valor Econômico
A disputa de 2018 deve reorganizar a eleição presidencial
Em que pese Amazonino Mendes ter perdido para a soma das abstenções e dos votos nulos e em branco, a eleição do Amazonas foi saudada entre políticos tradicionais do Congresso. Tanto o vitorioso Amazonino como Eduardo Braga, o candidato derrotado no segundo turno, são políticos da velha escola. A disputa no Amazonas, no entanto, não deve servir de parâmetro para o que pode acontecer nas eleições gerais de 2018. Tudo aponta, no momento, para uma renovação partidária recorde, segundo pesquisa sobre a volatilidade das eleições para presidente, desde 1994, conduzidas pelo professor Wladimir Ganzelevitch Gramacho, da Universidade de Brasília (UnB).
Gramacho lidera na universidade o Grupo de Pesquisa de Comportamento Político e Opinião Pública (Compop), onde as atenções já estão concentradas em 2018. Baseado na pesquisa Datafolha de junho deste ano, o professor projetou o índice de volatilidade para a eleição do próximo ano. Pesquisou dois cenários (veja o quadro), um com Lula e outro sem o ex-presidente da República. O segundo cenário, especialmente, aponta para um índice (80%) de volatilidade dos partidos. Um recorde. Algo parecido com o que ocorreu Cardoso em 1994, quando se estabeleceu PT e PSDB como polos da política nacional.
"Essa [2018] é uma eleição que vai reconfigurar mais ou menos o sistema de competição para a Presidência", afirma Gramacho. "Esse é o dado mais relevante do estudo". Um cenário que pode implicar, enfim, não só um candidato mas também um partido sobre os quais pouco se saiba. "Partido sobre o qual a gente não tem experiência prévia, não sabe qual a linha programática, as propostas de políticas públicas e de reformas".
Comum nos Estados Unidos e Europa, a pesquisa de volatilidade eleitoral não mede se um candidato ganha ou perde votos, mas características de cada eleição. Mede a migração dos votos, entre uma e outra. No Brasil, onde a pesquisa quantitativa é mais comum, o método atrai mais a academia. Desde 1994, a eleição com maior índice de volatilidade do candidato foi a de Dilma Rousseff, em 2010, que chegou a 100%. A explicação é simples: "Foram todos candidatos novos e os candidatos que receberam votos em 2006 não tiveram nenhum voto em 2010. Essa é a lógica", explica Gramacho.
A eleição com o índice de volatilidade mais baixo (18% tanto para candidatos como para os partidos) foi a de 1998. Foi uma campanha de reeleição, terminou no primeiro turno, os candidatos principais eram Lula e Fernando Henrique Cardoso, o país estava preocupado com as crises financeiras internacionais - Ásia, Rússia - e o governo tinha uma campanha de comunicação que chamava a atenção para os riscos da mudança de governo diante de um cenário turbulento na economia.
Os dois partidos que se revezam no poder desde 1994, PT e PSDB, integram o cenário de 2018. Mas num contexto em que os candidatos são o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-prefeito Fernando Haddad estão com baixa intenção de votos nas pesquisas quantitativas, o que joga o índice de volatilidade para as alturas.
Segundo Gramacho, os índices tanto do PSDB quanto do PT tendem a aumentar. "São partidos muito estruturados, com governadores ou prefeitos, enfim, cidades importantes, e uma capacidade de mobilização nas campanhas eleitorais muito boa", diz. "De qualquer forma, neste momento, o cenário é preocupante: não sou contra a renovação, mas sabe-se o que esperar do PT e do PSDB. O mesmo não pode ser dito em relação aos novos partidos na planilha".
A renovação prevista é maior do que a que se produziu em 2010, quando o índice de volatilidade dos candidatos foi de 100%, mas a dos partidos foi de 20% - eram as mesmas legendas oferecendo nomes novos. Em 2018 o índice dos candidatos está na faixa de 79% e 77%, nos dois cenários pesquisados, respectivamente. Já o índice dos partidos está mais alto, entre 51%, no cenário com Lula, e de 80% sem o ex-presidente. E mesmo com Lula no páreo, a volatilidade dos partidos está em 51%.
No entendimento de Gramacho, a eleição de 2018 tende a ser uma eleição comparável com a de 1994 também no que diz respeito à "reorganização do sistema de competição para a Presidência de uma forma muito diferente do que se teve na eleição anterior, em 1989". Depois do fenômeno Fernando Collor de Mello os grandes partidos criaram regras para se blindar dos outsiders; as regras para 2018 também serão muito diferentes daquelas que vigiram na eleição de 2014, a começar pelo fim do financiamento privado das campanhas. Novos jogadores, novos times, novas regras.
"Do ponto de vista qualitativo está se desenhando uma eleição que vai reorganizar a disputa talvez já não mais entre esses dois polos que lideraram o processo até aqui, que foram o PSDB e o PT", diz Gramacho.
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