A forte freada na oferta de crédito para as empresas e a manutenção do ritmo de aumento lento e gradual para as pessoas físicas são mais uma indicação de que o consumo puxará o crescimento modesto da economia no ano. O aperto fiscal em andamento cortou em mais de um terço os já cadentes investimentos públicos, enquanto que a redução de saldos e concessões de empréstimos para pessoas jurídicas sublinham o fato de que os investimentos privados continuarão retraídos no médio prazo.
As previsões para o desempenho do Produto Interno Bruto do segundo trimestre, em geral negativas no início do ano, aproximaram-se da estabilidade (0%), segundo levantamento do Valor Data com 18 analistas. Um resultado ligeiramente positivo ou negativo não mudará a tendência de recuperação, nem suas forças propulsoras. Pela pesquisa, o consumo das famílias fechará o ano com avanço de 0,9% e as exportações, de 0,7%. Os investimentos (formação bruta de capital fixo) já darão uma importante colaboração se apenas deixarem de cair (estimativa: 0,1%).
O governo vem dando estímulos ao consumo que, junto com o rápido declínio da inflação, formam dose de impulsos relevantes para auxiliar a retomada econômica, de resto ainda amortecida por grande margem de capacidade ociosa nas indústrias, um comportamento bastante retraído dos bancos no crédito (tanto em termos de volume como de redução de juros) e um aperto significativo nos gastos discricionários da União.
Depois de liberar R$ 42,8 bilhões das contas inativas do FGTS, o governo anunciou que também tornará acessível agora os recursos do PIS-Pasep para aposentados com 65 anos (62 anos, no caso das mulheres), quando antes isso só poderia ocorrer aos 70 anos. A previsão de saques é de R$ 16 bilhões.
Não são recursos desprezíveis. Em cálculos aproximados, os cerca de R$ 60 bilhões equivaleriam, por exemplo, ao pagamento de um décimo quarto salário, pelo rendimento mensal médio de quem tem carteira assinada (R$ 2,1 mil), para quase 30 milhões de trabalhadores. A população empregada com carteira assinada, fora domésticos, é de 33,3 milhões, segundo os dados da Pnad Contínua referentes ao segundo trimestre.
Esses estímulos compõem um quadro alentador em conjunto com o processo desinflacionário que tem mostrado ganhos reais dos salários. A modesta reação do consumo foi suficiente para ajudar a mover alguns segmentos da indústria e dos serviços, além de dar sua contribuição para a redução do desemprego, que recuou para 13% no segundo trimestre, ante 13,7% no primeiro. E, assim como para os empregados, os recursos das liberações ajudaram em alguma medida a recompor momentaneamente o orçamento doméstico e/ou reduzir o endividamento. O vigor das exportações, por outro lado, tem embalado os setores mais dinâmicos da indústria e os serviços a eles atrelados.
Essa recuperação, que segue o padrão tradicional, encontra obstáculos maiores para deslanchar. Com o elevado endividamento de pessoas físicas e jurídicas, o canal do crédito só parcialmente potencializará a reação modesta do consumo. Para os consumidores, a situação dos empréstimos já tornou-se encorajadora. As concessões no ano subiram 8,2% até julho e o saldo de crédito no mesmo período tornou-se positivo (1,7%), indicando que possivelmente haverá um aumento real (descontada a inflação) da oferta.
Mas os bancos ainda estão jogando na retranca com o crédito empresarial, objeto de um aperto em julho, quando as concessões com recursos livres caíram 21,9%. No ano, tanto os saldos quanto os novos empréstimos estão na casa dos 6,5% negativos, isto é, uma retração real próxima dos dois dígitos. Ainda assim, esses números já foram piores. Apesar do tombo de julho, no ano os créditos para desconto de duplicatas e capital de giro com prazo superior a 365 dias já apresentam aumento real. As instituições financeiras elevaram também os spreads, mesmo diante da certeza de novas e importantes reduções da taxa Selic, em um movimento que não deve ter continuidade.
A correção para baixo dos juros, em magnitude maior do que as previsões do início do ano - a mediana do Focus aponta 7,25% em 2017 - trará um alívio providencial ao endividamento das empresas, em boa parte atrelado à evolução do CDI. A recessão parece ter ficado para trás e o problema agora é outro: como crescer mais e de forma sustentável.
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