Em um de seus célebres arrebatamentos retóricos, ainda na Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou que um homem público "faz campanha da hora em que acorda à hora em que dorme, 365 dias por ano".
Desconte-se algum eventual exagero, reconheça-se a franqueza da sentença. Não será realista esperar que políticos de ofício deixem de mirar diuturnamente as eleições seguintes, mesmo quando à frente de funções administrativas a eles confiadas pela população.
Assim o demonstram dois potenciais candidatos a adversário de Lula no pleito de 2018. Os tucanos Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e João Doria, prefeito da capital, já percorrem o país em eventos os mais diversos, nenhum que possa desmentir a observação do cacique petista.
Conforme noticiou esta Folha, Alckmin visitou cinco Estados e o Distrito Federal desde junho; Doria, quatro, além de duas idas a Brasília —ainda nesta segunda-feira (14), estava no Tocantins.
Ambos visam o contingente mais vasto do eleitorado nacional: os 46% que, segundo levantamento de junho do Datafolha, descartam a hipótese de votar em Lula. Se a escolha da candidatura do PSDB vier a depender do desempenho nas pesquisas, o que é plausível, nem o governador nem o prefeito dispõem de números decisivos.
Este pontua um pouco melhor, com 14% em cenário que exclui investigados pela Lava Jato; aquele chega a 10% na simulação com o ex-prefeito Fernando Haddad na condição de postulante pelo PT.
Os resultados dos tucanos nas eleições presidenciais desde os anos 1990 encorajam expectativas de crescimento dos índices. Mais incerto, todavia, é o que seu representante terá a propor ao país.
Doria apresenta-se como a novidade, alheio à política convencional, um gestor. Nesta seara, entretanto, tem pouco a apresentar em menos de oito meses de seu primeiro mandato —e as seguidas ausências dificilmente contribuirão para seu currículo administrativo.
Precisa-se de experiência, contrapõe Alckmin, que soma dez anos em diferentes passagens pelo comando do Estado. Seu feito mais vistoso tem sido o de manter as contas paulistas em relativa ordem; sempre lhe faltou desenvoltura, entretanto, para tratar dos temas nacionais mais complexos.
Já o eterno presidenciável do PT, com 30% das intenções de voto, prepara caravana pelo Nordeste, seu maior reduto, sem plataforma que vá além da crítica oportunista à política econômica e do culto à própria personalidade.
Desta feita, a incessante campanha de Lula independe das próximas eleições —trata-se, mais imediatamente, da defesa política para os processos judiciais de que é alvo.
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