segunda-feira, 28 de agosto de 2017

No NE, Lula joga xadrez político

Por Marina Falcão | Valor Econômico

JOÃO PESSOA - Com sua caravana pelo Nordeste na metade do caminho, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já deixou claro que vai passar por cima de constrangimentos com parceiros nos Estados - e dentro da própria militância - em nome de alianças políticas para 2018.

"A política é um jogo de xadrez, não é um jogo de dama e o presidente Lula é um grande jogador de xadrez", avalia o deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE), que discursou ao lado de Lula em Pernambuco.

Na passagem por sua terra natal, o petista teve agenda com dois adversários na política local: tomou café com o senador Armando Monteiro (PTB-PE), ex-ministro de Dilma Rousseff e defensor do seu mandato até o fim, e jantou com a família do ex-governador Eduardo Campos e o governador Paulo Câmara (PSB), que apoiou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno de 2014 e, depois, o impeachment de Dilma. "Vejo com naturalidade, ele está conversando com todo mundo para tentar reconstruir a Frente Brasil Popular", diz Sílvio Costa, aliado de Monteiro, que não subiu no palanque com Lula.

No Maranhão, Lula pode se depara com situação semelhante. Nos bastidores, comenta-se que vai se encontrar com a família Sarney, embora essa agenda não seja confirmada oficialmente. Lula já fez o aceno quando disse, durante entrevista no Recife, que era "grato" ao ex-presidente como presidente do Senado.

Ao mesmo tempo, Lula deve discursar ao lado do governador Flávio Dino (PCdoB), opositor do "golpe" e dos Sarney. O Maranhão deve ser a última parada da caravana, no dia 5 de setembro.


Pregando o diálogo por onde passa, Lula tem repetido que as alianças são necessárias não só para se eleger, mas também para governar. "Gostaria que a esquerda tivesse mais força, que o PCdoB elegesse 50 deputados, que Psol elegesse 50, 60, que o PSTU elegesse 50, 60, que a esquerda do PMDB elegesse 50, 60. Mas quem vota é o eleitor e nós temos que nos subordinar ao desejo das urnas", disse.

Para que Lula pudesse subir no palanque com o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) - "que pode ter todos os defeitos, mas me ajudou a governar o país", nas palavras do petista -, a ex-presidente Dilma só pôde se juntar à caravana depois da passagem por Alagoas. O senador apoiou o impeachment de Dilma.

No Ceará, uma aliança com o clã dos irmãos Gomes só deve ser viável num eventual segundo turno. A caravana deve fazer uma passagem tímida pelo Estado, com atos apenas nas cidade de Quixadá e Crato. Será o único Estado onde Lula não passará pela capital. Pré-candidato em 2018, Ciro Gomes (PDT) estará na China, dando palestra da na Universidade de Pequim, quando Lula desembarcar no Ceará amanhã. O petista será, no entanto, recebido pelo governador Camilo Santana (PT), afilhado político de Ciro. Santana deve se lançar candidato à reeleição na chapa com Ciro para presidente e Cid para senador e, possivelmente, mudar de partido até lá.

Com o anúncio das privatizações feito pelo governo federal, o discurso de Lula contra o presidente Michel Temer ganhou fôlego. Em discurso para movimentos sociais em João Pessoa, no sábado, o petista disse que é necessário discutir a soberania nacional. "Quando não tiver mais nada para vender, eles venderão a alma ao diabo".

Lula foi recebido pelo governador Ricardo Coutinho (PSB), que não se afastou do PT apesar da direção contrária seu partido durante o governo Dilma. No dia da chegada do ex-presidente, Coutinho anunciou o fim do racionamento de água no Estado.

Ontem, em entrevista à rádio local, Lula criticou a "política de arrocho" dizendo que não acredita nesse modelo. O ex-presidente disse que o governo "está cumprindo uma cartilha que não deu certo em nenhum lugar do mundo" e, citando a Grécia, disse que "todos os países da Europa que fizeram o ajuste como Brasil está fazendo quebraram".

Os ataques à Justiça também aumentaram. No mesmo discurso, Lula afirmou que nenhum "canalha" conseguiu provar nada contra ele até agora e que as provas que constam no seu processo, são provas de sua inocência. A regulação da mídia é outro tema sempre presente nos discursos.

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