Seria de esperar que, com a sequência de escândalos vividos pelo lulismo e com a derrocada do governo Dilma Rousseff (PT), coubessem ao PSDB, principal agrupamento de oposição, os maiores ganhos políticos de todo o processo.
Nada mais distante do que ocorreu: o partido se vê em uma crise talvez sem precedentes em sua história, a qual parece agravar deficiências crônicas da agremiação.
A contingência histórica sem dúvida contribuiu para a situação: para o impeachment de Dilma, foi decisivo o papel de seus antigos aliados peemedebistas, como Eduardo Cunha e Michel Temer.
Colocou-se o PSDB no papel, que sempre gostou de exercer, de avalista ético e ideológico para procedimentos em boa parte orientados pelo pragmatismo e pela barganha.
Por vezes justificado, por vezes não, o senso tucano de superioridade qualitativa diante das demais forças políticas terminou por submeter-se à dura prova da realidade.
Não bastasse o caso do mensalão mineiro, diversas suspeitas surgidas na Lava Jato, em especial sobre seu candidato nas eleições presidenciais de 2014, Aécio Neves (MG), corroeram as pretensões peessedebistas de oferecer prescrições morais a quem quer que seja.
A ilusão ganhou as cores mais vivas do ridículo no recente programa televisivo do partido, quando uma animação tratou de ilustrar os mecanismos da disputa fisiológica por cargos no governo federal.
O conceito de "presidencialismo de cooptação", formulado em teoria, se não na prática, por Fernando Henrique Cardoso, descreve bem o esquema predominante no governo Temer -e estaria perfeito, para fins de crítica, não fosse o PSDB um de seus beneficiários.
Com razão, outros partícipes do ministério questionam a autoridade dos tucanos para fazer tal denúncia, ao mesmo tempo em que detêm quatro pastas na Esplanada.
Não seria simples, sabem muitos líderes do PSDB, abandonar o governo Temer -que, bem ou mal, procede a uma imprescindível reorganização da economia conforme princípios defendidos pelo partido.
As ambiguidades se reproduzem no interior do PSDB na forma, que nunca lhe foi estranha, do conflito das veleidades pessoais. Sempre se tratou de um partido com excesso de candidatos viáveis, em tese, à Presidência da República.
Apostando em Geraldo Alckmin ou em João Doria, a favor ou contra Temer, querendo a volta de Aécio Neves ou preferindo descartá-lo em definitivo do comando do partido, os tucanos padecem do paradoxo de, tendo muitos líderes, não contarem com nenhum.
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