Há mais de dois anos o consumo da população não crescia, o que é ajudado pela inflação baixa; mas tudo vai ser decidido no front político, onde pairam incertezas
A composição do magro 0,2% do crescimento do PIB do segundo trimestre, sobre o primeiro, índice que insinua uma estabilidade, traz boas notícias. A evolução em 1% no primeiro trimestre tinha sido construída por uma safra recorde, cuja característica é produzir efeitos de fôlego curto — positivos ou negativos.
E agora, foram os serviços — respondem por 65% do PIB —, que tracionaram este pequeno, porém bem-vindo, crescimento. Ao contrário das safras, colhidas e comercializadas, o setor de serviços pode dar contribuição positiva à economia bem mais duradoura.
Mais ainda: esta expansão se deve ao aumento do consumo das famílias, razão direta da retomada de algum poder de compra da população. Também em comparação com o trimestre anterior, houve, neste item , uma expansão de 1,4%, algo que não acontecia há mais de dois anos.
Explica-se o feito, em boa medida, por uma das mais baixas inflações em muito tempo (3,6%), além de os juros estarem em queda vertiginosa — voltaram à casa do dígito único, 9,5%, e de maneira natural, não por voluntarismo.
Outra diferença substantiva em relação aos tempos lulopetistas é que a elevação do consumo não se deve a políticas suicidas baseadas em aumento descuidado dos gastos públicos e incentivos tributários sem limites, uma trilha cujo ponto final foram a explosão das contas públicas e a maior recessão da história, que começa a chegar ao fim — tecnicamente chegou — , depois de dois anos de queda vertiginosa do PIB.
Fica demonstrado na prática o enorme equívoco de teses “desenvolvimentistas” que admitem inflação como um elixir benigno. Daí este crescimento do consumo ser de uma qualidade apurada
Outro ingrediente deste bom cenário é a queda da taxa de desemprego, para 12,8%, segundo o IBGE. O índice ainda é elevado — mas já foi de 13,7%, em março —, além de os empregos que estão sendo gerados serem de baixa qualidade: informais e mal remunerados. Mas costuma ser assim no início de processos de retomadas. Esta, por exemplo, ainda não ativou os investimentos, algo essencial.
Os pontos de interrogação sobre o futuro se multiplicam ainda mais devido à crise política, em cujo centro está um presidente refém de votos na Câmara, para continuar barrando a chegada ao Supremo de denuncias contra ele feitas pela Procuradoria-Geral da União.
É pedir demais ao Congresso que, com espírito público, limpe o terreno à frente do PIB, aprovando a reforma da Previdência na versão carimbada pela comissão especial que a examinou.
Mas é disso que se trata. As forças responsáveis no Legislativo devem entender a mensagem que o PIB transmite: é possível a economia se recuperar em bases saudáveis, mas desde que o cenário fiscal saia das nuvens e aponte para o reequilíbrio do Orçamento.
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