- Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Sob pressão com a movimentação do prefeito paulistano, João Doria (PSDB), para se viabilizar presidenciável, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), vem adotando atitude cada vez mais incisiva como candidato e, em tom de campanha, declarou nesta quinta-feira (31) que "quer ser o presidente do povo brasileiro".
"Da elite, não. Quero ser o presidente do povo brasileiro, de empresários que geram emprego, do povo trabalhador sacrificado do Brasil, muitas vezes injustiçado", afirmou o governador.
O tucano, que costuma repetir que "eleição é em ano par" e que não antecipa campanha, declarou publicamente nas últimas semanas o desejo de disputar a Presidência e tem dito a interlocutores que Doria não o impedirá.
O prefeito foi eleito, com apoio decisivo de Alckmin, beneficiado pela rejeição da sociedade ao establishment, com o mote de que não é um político, mas um gestor.
Nesta quinta, o governador tucano fez um contraponto à posição do antigo apadrinhado. "O que eu quero deixar claro é que a política, a boa politica, correta, que não se verga, que tem princípios é que vai pôr o Brasil no rumo, [fazê-lo] reencontrar o rumo do crescimento, de geração de emprego, de uma sociedade mais justa", defendeu.
"O Brasil é um país profundamente injusto, injusto na maneira como arrecada tributos, injusto na maneira como os devolve à sociedade."
COMPARAÇÃO 'HILÁRIA'
Alckmin debochou da comparação feita pela consultoria americana Eurasia de seu nome ao da democrata Hillary Clinton, que perdeu para Donald Trump a disputa presidencial nos EUA.
"Não é Hillary, é hilário. Se conhecessem um pouquinho o Brasil, iam saber que a Hillary teria ganho a eleição aqui. Ela teve quase 3 milhões de votos a mais do que o Trump. Ela perdeu porque o modelo americano é diferente [baseado num colégio eleitoral]", afirmou.
"Estou acostumado. Na última eleição, diziam que eu não ganharia por causa da crise hídrica, ganhei no primeiro turno. Dos 645 municípios, venci em 644. Fato inédito", gabou-se.
A Eurasia sustentou a comparação no fato de os dois, em seu ponto de vista, representarem o establishment, o que seria prejudicial em momento de rejeição da população à política.
"A boa política, que não se verga, é que vai por o Brasil no rumo", rebateu o tucano.
Para a consultoria, que avalia riscos políticos para investidores, o grande obstáculo para a agenda econômica no Brasil é a ausência de um candidato competitivo pró-reformas em 2018.
Segundo a Eurasia, o sentimento antiestablishment será intenso nas eleições de 2018. O estudo afirma que a candidatura do ex-presidente Lula não ameaça o mercado.
O que ameaçaria o mercado, de acordo com o diagnóstico, seria a ausência de uma figura como Doria, que levanta a bandeira da antipolítica.
"O risco não é o Lula concorrer, mas sim que alguém como João Doria não concorra", afirmou a consultoria.
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