Pela primeira vez desde agosto de 2015 cresceu o número de pessoas com algum emprego. Em julho, havia 190 mil pessoas ocupadas a mais do que em julho do ano passado (no caso, as comparações anuais são as que mais importam).
É como se uma pessoa tivesse aberto os olhos e dito um "oi" débil e sussurrado depois de um longo coma. Quando o doente vai sair da cama e com quais sequelas, são outros quinhentos. Ou outros milhões de empregos.
O último pico de emprego, para os meses de julho, ocorreu em 2015. Em julho deste 2017, o número de pessoas ocupadas era 1,5 milhão menor.
Considerados o número de pessoas em idade de trabalhar, a taxa média de pessoas na força de trabalho e o nível de ocupação etc. de 2012 a 2014, estamos com um deficit de 3,6 milhões de empregos, por aí.
Ou seja, para chegarmos a um nível normal de ocupação e taxa de desemprego, seria preciso empregar 3,6 milhões de pessoas, sem contar aquelas que ainda vão procurar trabalho.
Em tempos ainda bons de oferta de trabalho, de 2012 para 2013, o número de ocupados cresceu 1,5 milhão. Quer dizer, agora vamos travar uma batalha morro acima, carregando feridos nas costas, como se diz hoje em dia, emprestando metáforas do inglês.
Mas esse número de deficit de empregos é apenas especulação estatística. Não sabemos o que será da economia brasileira depois desta catástrofe, se terá sequelas duradouras, isso se não fizermos mais besteira.
A melhorazinha quantitativa do emprego em julho, embora um alívio, é de baixa qualidade. No pico de julho de 2015, 38,8% das pessoas ocupadas no setor privado tinham carteira de trabalho assinada; agora, são 36,8%.
A gama dos trabalhos precários (sem carteira assinada e por conta própria) ocupava 34,9% das pessoas em 2015; agora em julho, 36,8%. Para ser menos abstrato: foram-se 2,4 milhões de empregos com carteira assinada.
Ainda assim, é melhor sair do coma. A massa de rendimentos do trabalho (soma do que todo mundo ganha trabalhando) sobe desde fevereiro, em ritmo cada vez maior, chegando agora a 3,1% ao ano, com ajuda forte da baixa da inflação.
A inflação caiu em boa parte por causa da recessão horrenda e da produção agrícola espetacular, o que deu uma mãozona na queda dos juros. Vamos saindo da recessão em doses homeopáticas, de política monetária.
Impulso maior viria de investimentos em novos negócios e obras, por assim dizer, investimento que ainda não há, a não ser que o resultado do PIB nos surpreenda muito hoje.
Não há investimento porque sobra capacidade de produção nas empresas. Porque o governo não tem dinheiro para investir (pior, grande vexame e incompetência, gastou o que não tinha em aumento para servidor).
Porque investimentos possíveis mesmo em tempos recessivos, obras e serviços de infraestrutura concedidos à iniciativa privada, não vingam, pois o governo não consegue implementar projetos de concessões.
Em vez de colocar exércitos para tocar tais projetos, o governo se ocupa de evitar a decapitação de Michel Temer, de catar dinheiros de modo desesperado para fechar as contas e de fazer fanfarra de planos novos de privatizações e concessões sem ter cumprido as promessas dos mesmos planos de meses atrás.
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