O Haiti não deixou de figurar entre os países mais miseráveis do mundo ao longo dos 13 anos em que o Brasil comandou ali uma missão de paz das Nações Unidas.
Conforme as estimativas do Fundo Monetário Internacional, o PIB haitiano, se dividido igualmente entre os cerca de 11 milhões de habitantes (população pouco inferior à da cidade de São Paulo), resultaria em meros US$ 1.800 anuais, já ponderados pelo poder de compra da moeda local.
Trata-se de menos da metade da média verificada na África subsaariana —ou de cerca de 12% da renda per capita brasileira (de US$ 15,5 mil projetados neste ano).
Os costumes políticos do Haiti não destoam da indigência. O atual presidente, Jovenel Moïse, disputou as eleições de 2015, que acabaram anuladas devido a alegações de fraude, e de 2016, também alvo de questionamentos, mas de resultado afinal aceito pela Justiça.
Apenas um quinto do eleitorado participou do pleito, disputado por nada menos que 54 candidatos. Até então, o país vinha sendo administrado por um interino.
Mas não era desenvolver a economia e as instituições haitianas o objetivo da Minustah, sigla derivada do francês para a missão da ONU liderada a partir de junho de 2004 pelo Brasil —cuja participação encerrou-se nesta quinta-feira (31).
Buscava-se, mais emergencialmente, evitar o aprofundamento de uma guerra civil no país caribenho, após conflitos armados que haviam levado à queda do presidente Jean-Bertrand Aristide.
Do lado brasileiro, a ocasião mostrava-se propícia para as ambições do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de maior projeção internacional. Operações do gênero são úteis, ademais, para que os militares adquiram experiência na pacificação de áreas urbanas —conhecimento aproveitado, por exemplo, no Rio de Janeiro.
Tais propósitos se cumpriram, embora a Minustah tenha se prolongado em demasia. Para tanto contribuíram catástrofes como o terremoto de 2010, que matou mais de 200 mil habitantes, e um furacão no ano passado. Às tragédias somou-se uma epidemia de cólera, cuja origem foi atribuída a soldados nepaleses da missão.
Os custos para o Brasil ainda estão por serem detalhados; em dados oficiais mais recentes, foram R$ 2,6 bilhões (dos quais R$ 900 milhões reembolsados pela ONU). Sempre haverá controvérsia sobre a conveniência desse tipo de gasto.
Quanto a apressar algum progresso social no Haiti, essa é tarefa que demandaria uma ação internacional de escala muito maior, na forma de investimentos e ajuda humanitária. Ainda assim, subdesenvolvimento tão extremo é um mal para o qual não se conhece tratamento seguro.
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