- Folha de Paulo
Os Bolsonaros enriqueceram enquanto faziam política, como mostrou esta Folha. O caso específico pode ter uma justificativa plausível, e o que se espera em especial do presidenciável da família é que esclareça cabalmente os motivos da multiplicação patrimonial.
Já quando o conjunto dos representantes eleitos num mesmo território enriquece de modo desproporcional, não deveria haver dúvida quanto ao diagnóstico. Estamos falando, nesse tópico, de corrupção.
Um estudo recente a quantificar o bônus financeiro de entrar para a política numa nação emergente, do economista Ray Fisman (Universidade de Boston) e colegas, enfoca a Índia deste início de século.
Nas assembleias estaduais da gigantesca federação indiana, a evolução anual do patrimônio declarado de um deputado correu de 3% a 5% mais depressa que a do adversário derrotado na eleição distrital, em condições similares de largada. Significa acúmulo adicional de riqueza de 30% a 60%, na média, em dez anos.
Se o deputado chega a ocupar posições no gabinete do governo regional –equivalentes a secretarias estaduais aqui–, o bônus salta para 15% ao ano, o que confere ao eleito o quádruplo do patrimônio do adversário ao fim de uma década.
A média, porém, esconde notável variação regional. Nos Estados com maior percepção de corrupção, de acordo com indicadores como os da Transparência Internacional, o prêmio patrimonial pela eleição chega a 10% ao ano. Conforme o escore da corrupção vai ficando mais baixo, o bônus de riqueza diminui e desaparece.
A Assembleia do Rio, onde o filho mais velho de Jair Bolsonaro atua há 15 anos, sobressai no noticiário policial. O presidente, Jorge Picciani, e mais dois deputados estão presos. A percepção da corrupção ali é elevada. A evidência comparada sugere que tornar-se deputado fluminense configure, na média, bom investimento.
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