Ação investiga ‘quadrilhão do PMDB’
Ministério Público acusou, no dia 21, José Yunes e coronel Lima de integrar organização criminosa ligada ao partido
Seis dias antes de o STF autorizar seus mandados de prisão, o advogado José Yunes e o coronel João Baptista Lima foram denunciados pelo Ministério Público à 12ª Vara Federal de Brasília. Amigos do presidente Michel Temer, eles foram acusados de integrar organização criminosa ligada ao PMDB, como intermediários de propina. As provas serão remetidas à Procuradoria-Geral da República para auxiliar nas investigações que envolvem Temer e elevam a pressão por acordos de delação. Em depoimento na investigação sobre o decreto dos portos, o dono da Rodrimar, Antonio Celso Grecco, reconheceu ter pedido ajuda a Temer, que teria respondido: “Vou ver o que posso fazer.”
No meio do ‘quadrilhão’
MP denuncia, em 1ª instância, amigos de Temer de integrarem organização criminosa
Aguirre Talento, Vinícius Sassine e Bela Megale | O Globo
Na esteira das investigações contra o entorno do presidente Michel Temer, o Ministério Público Federal apresentou uma nova denúncia na Justiça contra dois de seus aliados mais próximos: o advogado José Yunes e o coronel João Baptista Lima, presos anteontem na Operação Skala. Ambos foram acusados de integrarem organização criminosa ligada ao PMDB, por exercerem o papel de intermediários em repasses de propina. Como não possuem foro privilegiado, Lima e Yunes foram denunciados à 12ª Vara Federal de Brasília no último dia 21, dentro do caso conhecido como “quadrilhão do PMDB”. Seus nomes foram incluídos em um aditamento enviado à Justiça pela força-tarefa da Operação Greenfield, da Procuradoria da República no Distrito Federal (PR-DF), conforme informações obtidas com exclusividade pelo GLOBO. O caso está sob sigilo.
As investigações feitas pela força-tarefa da Greenfield complementam o trabalho que a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Polícia Federal estão fazendo na Operação Skala, deflagrada anteontem. As provas obtidas pelos investigadores na primeira instância serão remetidas para auxiliar os trabalhos da PGR no inquérito que tem como alvo principal Michel Temer. A denúncia aponta que existem elementos concretos de que Yunes e o coronel Lima atuaram em prol de uma organização criminosa do PMDB. Uma delas seria a admissão feita pelo advogado de que recebeu um pacote de dinheiro da Odebrecht a pedido do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
PENAS DE TRÊS A OITO ANOS DE PRISÃO
Caso a denúncia seja aceita pela 12ª Vara Federal, Yunes e o coronel Lima se tornarão réus no quadrilhão do PMDB e responderão pelo crime de organização criminosa, cuja pena varia de três a oito anos de prisão. Isso muda as suspeitas contra os dois para um novo patamar, já que até agora eles eram apenas investigados, e aumenta a pressão na direção de acordos de delação premiada. Também estão denunciados no caso o operador financeiro do PMDB, Lúcio Funaro, e os ex-deputados Eduardo Cunha, Henrique Alves, Geddel Vieira Lima e Rodrigo Rocha Loures, todos ligados a Temer.
A denúncia não tem como foco um fato específico, mas um conjunto de irregularidades já delatadas contra integrantes do PMDB, envolvendo diversos escalões da administração pública, como integrantes da Caixa Econômica Federal. Outro elemento relevante para o aditamento foram as delações premiadas dos executivos da J&F, que entregaram provas e detalhes sobre possíveis crimes praticados pelos peemedebistas. Também há menções na denúncia ao setor portuário, mas que se basearam em provas anteriores às que estão sendo colhidas agora na Operação Skala. Por isso, novas provas obtidas pelos investigadores poderão servir para reforçar as acusações contra Yunes e o coronel Lima ou até mesmo para incluir outros alvos na denúncia, em eventuais novos aditamentos.
O processo desceu para a primeira instância depois que a Câmara dos Deputados barrou a abertura da ação penal contra o presidente Michel Temer. Por isso, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin desmembrou a investigação contra os que não tem foro privilegiado. O material chegou no início do ano ao Ministério Público Federal no DF, que passou quase três meses analisando as provas e as suspeitas existentes contra os personagens. A força-tarefa da Greenfield ratificou a denúncia original, feita inicialmente pelo então procurador-geral da República Rodrigo Janot, e acrescentou novos nomes, contra os quais havia provas de envolvimento em ilícitos da organização criminosa. Desde que entraram no foco das investigações, essa é a primeira acusação formal contra o coronel Lima e José Yunes.
A prisão temporária dos dois, assim como dos outros alvos da Operação Skala, vence na terçafeira. As defesas dos investigados protocolaram ontem no Supremo pedidos para revogar as prisões de seus clientes, mas o ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso, proferiu um despacho afirmando que só poderá decidir sobre a soltura depois que a PGR e a PF concluírem a tomada de depoimentos. Apesar de os presos terem sido ouvidos anteontem e ontem, a PGR avalia a possibilidade de interrogá-los novamente, porque a maior parte dos investigados foi ouvida apenas pela PF, sem a presença de integrantes da equipe da procuradorageral da República, Raquel Dodge. Esses novos depoimentos podem ocorrer hoje ou amanhã.
DECISÃO SOBRE PRISÃO PREVENTIVA
Uma decisão sobre pedir ou não a prisão preventiva dos alvos da operação será tomada por Dodge após esses depoimentos e com base em uma análise preliminar do material apreendido, caso haja um entendimento de que a prática de crimes continua acontecendo. Diferentemente da prisão temporária, que dura cinco dias prorrogáveis por mais cinco, a preventiva não tem prazo para terminar.
Todos os alvos da operação têm negado irregularidades. Os advogados do coronel Lima, Cristiano Benzota e Mauricio Leite, afirmaram em nota que ele “nega qualquer envolvimento em supostas irregularidades que são objeto de investigação”. A defesa de José Yunes classificou de “inaceitável” a sua prisão porque ele “sempre que intimado ou mesmo espontaneamente compareceu a todos os atos para colaborar”. Já a defesa do ex-ministro Wagner Rossi disse que “são abusivas as medidas tomadas” e que Rossi “está seguro de que provará sua inocência”.
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